FOFITA
Este nome nem mesmo se existe na Língua Portuguesa, mas foi um nome que inventei ontem, quando passeava pela praça e me deparei com um bando de maritacas que se alimentava em uma árvore de coqueiro.
Linda paisagem da praça. O coqueiro estava repleto de frutos vermelhos e ouvia-se uma grande gritaria de maritacas. Eram mais ou menos umas vinte, todas verdinhas que se misturavam com a folhagem do coqueiro. Seus gritos e cantos eram tão belos que sentei-me ao banco da praça, debaixo do coqueiro, e pus-me a observar. Eram tantas as idas e vindas destas lindas maritacas que mal tinha outra atenção a não ser para elas. Uma cortava o fruto com seu poderoso bico, outra aproximava e tomava o fruto de seu bico, mais uma gritava e partia para cima da outra, uma maior bicava as outras quando se aproximavam dela, outra deixava cair o fruto e voava para apanhá-lo, no chão, outra pegava o fruto e voava para comê-lo no galho de uma linda árvore de ipê amarela, enfim, quase uma hora se passou nestas condições. Eu, ali, sentado, com minha máquina fotográfica, pude fotografar várias vezes este lindo evento.
A minha surpresa foi maior, quando, em um dado momento, uma das maritacas, um pouco maior, olhou-me vagarosamente, dando-me a entender que já me conhecia há algum tempo. Sempre olhava-me, meio desconfiada, mas um olhar diferente. É verdade que alguns animais têm certo carinho por seus donos. Particularmente, no ano de 1993, fui presenteado por um filhote de maritaca, bem pequeno, com a asinha quebrada. Para mim, este presente foi tão importante, porque cuidei do bichinho e ele apegou muito a mim. Falava muito, ou melhor, repetia as palavras que ouvia. Cantava, gritava, chamava as galinhas, dançava, assobiava, chamava-me pelo nome, enfim, criou uma certa amizade entre mim e este filhote de maritaca. Carinhosamente eu a chamava de “Chica”. Ela viveu em minha companhia por dezessete anos. No dia que morreu, fiquei triste como se fosse um membro familiar, mas o tempo passou e prometi a mim mesmo que jamais teria uma linda maritaca. Teria sim, mas olhando para este bando de lindas maritacas verdes, cantarolando suas próprias canções.
O tempo passou e também passaram as recordações de “Chica”. Naquele momento, meus olhos eram somente para observar aquelas lindas criaturas em seu jantar predileto: alimentando com o fruto do coqueiro.
Várias fotos tirei delas, mas a que mais chamou minha atenção foi a Fofita, nome dado a esta linda ave que deixou-me fotografá-la carinhosamente. Ela não voava, ela comia seus frutos sempre olhando para mim. Fazia várias poses para minhas fotografias. Abria suas asas para mostrar-me seu tamanho, coçava sua cabecinha com suas unhas afiadas, arrepiava suas penas, mordia o fruto do coqueiro, enfim, fazia várias poses para ser fotografada. Parece que conversava comigo telepaticamente.
A tarde já começava a dar passagem para a noite. Muitas fotografias eu fiz. O sol se punha no horizonte. Um rápido olhar de Fofita para mim, como se fosse ela dizendo que já estava com o papinho cheio e já ia partir para seu abrigo, ou seja, alguma árvore onde o bando pousaria para o descanso do dia. Um forte olhar e um grito. Talvez, me disse em linguagem própria dela, um adeus; um grande abraço; muito obrigado por fotografar-me e peço que publique minhas fotos para que alguém veja que sou modelo e fui sua modelo por hoje. Até breve ou até algum dia poder vê-lo.
Batendo suas asas e jogando o resto do fruto perto de mim, como se estivesse dando-me este humilde presente e uma recordação de que Fofita foi modelo por algum momento. Voou Fofita indo juntar-se a suas amigas e este resto de coquinho guardei para lembra-la para sempre.