FRAGMENTOS DE MITOLOGIA GRECO-ROMANA-PARTE III
1--Desde o século XIX (talvez até mesmo antes...), seguindo textos de antigos escritores, ainda na atualidade os arqueólogos se inspiram na mitologia e fazem descobertas notáveis. Dois sagazes homens, HEINRICH SCHLIEMANN, arqueólogo amador alemão, e Sir(que luxo!) ARTHUR EVANS, arqueólogo inglês, relacionaram lendas heróicas e fatos históricos reais, desencavaram e descobriram em Cnossos, na ilha grega de Creta, as ruínas de um palácio que confere com as descrições da morada do rei MINOS e do labirinto guardado pelo MINOTARO, meio homem, meio touro. A civilização minóica floresceu 1.000 anos antes da Grécia Antiga com incrível sofisticação - anterioridade aos tempos históricos!
2--A pré-história de Atenas é conhecida pelos mitos recopilados no século II a. C. por APOLODORO DE ATENAS, filósofo e gramático. O fundador e primeiro rei de Atenas foi CÉCROPE, corpo híbrido de homem e réptil, cidade nessa época disputada por POSEIDON, deus dos mares, e ATENA - na mitologia romana, MINERVA -, deusa criativa das ciências, das artes, para as quais inventou instrumentos, e também da guerra. Nome da cidade decidido num pleito democrático, mediador Cécrope, 12 deuses, as mulheres também votando em quem produzisse algo melhor para a cidade: Poseidon deu um golpe com o tridente e fez surgir um cavalo, resultado a favor da deusa, que com a lança tirou da terra um ramo de oliveira (posterior símbolo da paz nas tradições bíblicas) e ensinou a usá-la.
3--Segundo PAUSÂNIAS, geógrafo e historiador no mesmo século, o primeiro rei da atual região chamada Ática, foi ACTEU, sogro de Cécrope. O governo de Atenas teve mais três reis, sendo que o terceiro destes era filho de HEFESTO - na mitologia romana, VULCANO - e ATENA, cauda de serpente nas pernas. Segundo narrativa de HOMERO em “Odisseia, o neto ERECTEU vivia num palácio datado de 1300 a, C, cercado por sólidas muralhas, restos ainda vistos no lado leste, atrás da porta monumental da acrópole (parte mais alta e nobre da cidade) de Atena. O terceiro sucessor de Erecteu foi EGEU, que se atirou ao mar ao ver as velas negras do barco de TESEU - este fora a Creta matar o Minotauro, navio ainda com velas negras, ao retorno trocadas por brancas para indicar estar são e salvo. Esqueceu-se da troca e o pai, desesperado, atirou-se ao mar a quem por esse destino deu o nome.
4--POSEIDON, grego, NETUNO, romano - Deus dos mares e da navegação, habitava o fundo das águas, agitando-as em ondas e tempestades. Na mão, um tridente.
5-- ATENA ou PALAS ATENA, grega, MINERVA (nome derivado de ‘mens’, espírito), romana - Deusa da sabedoria, protetora da abundância e da tranquilidade, simboliza a força da inteligência sobre os espíritos, descendente unicamente de JÚPITER (grávido como um cavalo-marinho?) que a fizera sair de seu cérebro, abrindo a cabeça a machado, ajudado por Vulcano. Também teve querelas com ARCENE, filha de ÍDON, que a desafiara para ver quem melhor bordaria um tapete. Foi vencida e atirou à rival sua lançadeira - a outra, desesperada, enforcou-se e os deuses compadecidos a metamorfosearam em aranha. Modernamente, na alegoria dos poetas, ‘arcene’ é toda obra de paciência e perfeição. Minerva é representada como bela mulher, capacete na cabeça, túnica ampla , numa das mãos um escudo e na outra uma lança, tendo a égide (couraça de pele de cabra com desenho da cabeça da Medusa) sobre o peito - há uma lenda controversa sobre o escudo, em que ‘égide’ era um monstro marinho que ela venceu e com a pele ornamentara o escudo (antes desse fato, os escudos eram chamados de égides). Os antigos a confundiam com a deusa BELONA, filha de FORCO e CETO, irmã de MARTE, que preparava os cavalos deste guerreiro, quando este ia à guerra - esta figura é representada com um azorrage (açoite, chicote) e um archote inflamado na mão, animando combates e combatentes.
6--HEFESTO grego, VULCANO, romano - No Olimpo, também deuses desventurosos e infelizes... Ao nascer, este deus foi desprezado por ZEUS-JÚPITER, seu pai, feio, disforme, sem a beleza divina, repudiou-o e expulsou com um pontapé - assim, perna quebrada, tornou-se coxo. Teve a modesta (hoje, metalúrgicos unidos e ofendidos!) profissão de ferreiro, forjador dos raios do pai. Casou com a brejeira e galante VÊNUS, vida íntima tormentosa, muitos escândalos amorosos, mulher partilhada com todos os galãs do lugar, nada discreta, em especial com MARTE, o façanhudo deus da guerra e da morte... Pobre marido idiota! Altamente desmoralizado e amargurado no Olimpo, ajudado como auxiliares na forja pelos CÍCLOPES, entidades tão monstruosas quanto ele - um só olho no meio da testa: oficinas nas ilhas de Líparo, de Lemnos e no interior do monte Etna. Hefesto/Vulcano era representado como um ser feio, cabelos revoltos, corpo musculoso, vestido até os joelhos, barrete redondo, um martelo na mão direita e a esquerda segura um raio que forja na bigorna. // CÍCLOPES - Gigantes, filhos do Céu e da Terra, descritos como raça pastoril e antropófaga habitando as cavernas da antiga Sicília. Modernamente, a palavra ‘ciclópica’ se refere a toda obra grandiosa e que depende de muitos esforços, vestígios de tais construções na Grécia, na Itália e em outros lugares.
FONTE:
“Deuses antigos”, de Jocelyn Santos - Rio, Livros do mundo inteiro, 1970 // “O roteiro dos mitos gregos” - SP, REVISTA GEOGRÁFICA UNIVERSAL, nov./94.
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