UM DIA A FELICIDADE CHEGA
Um dia eu ouvi que um dia a felicidade chega, tem seus enigmas desvendados.
É tímida, não toca a campainha, não gosta de conversa, invade a janela do quarto, te pega desprevenido.
Um dia me disseram que o amor é ferida que dói e não se sente.
Deve ser por isso que amor e felicidade sejam sinônimos mortais para a solitude humana. Não dizem quando vêm, não anunciam nada. Tratam-se de um silêncio que só grita quando um dia o afago já transbordou a alma inquieta.
Um dia é tão utópico, cabem tantos sorrisos, tantos abraços, tantos sonhos.
Quando ele vem?
Os céticos não sabem dizer.
Sabe-se apenas que um dia é a máquina que alimenta a esperança doentia do mundo de ser feliz.
Vive-se na esperança de um dia ser, de um dia ter, de um dia viver.
Um dia é consenso, é metafísica, é empirismo. Um carpe diem infinito.
Algumas vezes, esse um dia leva algumas primaveras para invadir a janela do quarto. Em outras, leva uma vida inteira, e não chega nunca.
Um dia só deixa de existir quando a morte anuncia a carcaça humana. Às vezes, ele nunca existiu.
Um dia não é geométrico, não tem forma, nem limitações.
Um dia é abstrato.
É incerto.
Quem sabe um dia.
Um dia, apenas.