PUXÕES DE CABELO!

Perto da primeira escola onde estudei havia o velhinho do doce. Uma banquinha com os mais variados doces do meu tempo de menina: banda, gamadinho, pirulito Zorro, plets, pilantra* (*era tipo uma paçoquinha, só que de chocolate meio amargo, uma delícia), entre outras gostosuras. Acontece que esses doces foram causa de desentendimento entre mim e minha irmã. Bem, na verdade, era apenas eu que fazia a confusão. Quando minha irmã Silvia Maria não tinha alguns centavos para um doce, eu puxava seus lindos e negros cabelos longos. Era um ritual constante eu agarrada ao seu belo e caprichado rabo de cavalo. E mesmo quando ela comprava doces, dessa vez eu puxava seus cabelos por querer todos! Deus, pobre da minha irmã que sofreu com as minhas pirraças turronas! De certo que as histórias de Sansão e Dalila levaram-me a crer que a força das pessoas provinha dos cabelos. E não é que parece haver um pouco de verdade na minha pueril conjectura! Eu quase paralisava a coitada da minha irmã, mesmo sendo quatro anos mais nova que ela... O sofrimento da minha irmã chegou ao fim quando meu pai certo dia me chamou e disse:

- Djinha, um passarinho me falou que você anda puxando os cabelos da sua irmã. Não faça mais isso.

Meu pai a vida toda foi um homem de pulso firme e de mãos pesadas. Apesar da sua falta de paciência, naquele dia ele falou manso comigo. Sei que surtiu efeito instantâneo, pois nunca mais puxei os cabelos de Sílvia, e morria de medo quando via algum passarinho x-nove, fofoqueiro duma figa, perto da escola! Daquele dia em diante comecei a passar pela banca do velhinho como se tivesse usando um tapa olho. Feito um cavalo, eu nem olhava mais para os lados. Olhos para frente sem chances de cobiçar um docinho sequer! Final feliz para minha irmã e nada doce para mim...