AUSÊNCIA .
De vez em quando gosto de me ausentar, ter chances maiores de encontrar comigo mesmo e de procurar entender e refrear minhas inspirações .
Nessas horas gosto de deixar a barba e o cabelo crescerem, encostar o tênis , os sapatos e ficar com chinelos de dedos a maior parte do tempo . É também nessas horas que deixo celular e relógio de lado e me preocupo quase que exclusivamente em prestar muita atenção nos sons da natureza, escutar a voz do vento, reger o doce cantar dos pássaros e na mente completamente despoluída dos odores da cidade compor vários versos e ensaiar outros tantos rabiscos que provavelmente jamais mostrarei .
É quando me sinto livre, não preciso ligar o motor do carro , nem ouvir o barulho dos ônibus e me incomodar com o matraquear dos que adoram fazer fofoca.
O interessante é que gosto de levantar mais cedo e apostar corrida com o sol pra ver quem chega primeiro até a ponta do jardim e quase sempre ganho . Não que o sol tenha ficado preguiçoso mas é que como levanto muito cedo, chego primeiro que ele aos quatro cantos de onde costumo e gosto de estar .
Não sei se isso pode ser confundido com uma fuga e pra mim o que importa é que considero apenas uma pequena ausência aliás, bem menor do que gostaria que fosse .
Não gosto de fazer falta e pra onde costumo ir posso dizer que não percebem a minha presença e me tratam apenas como mais um que está só de passagem. O lado bom é que quando tenho que partir vou tranqüilo porque não farei falta e provavelmente nem notarão minha partida.
Cheguei a um ponto da vida que não posso mais permitir que compromissos me sufoquem e que como gosto de deixar bem claro para meu relógio , quem manda nos meus horários sou eu e não ele .
É uma pena que não possa ficar para sempre no meu refúgio só lendo, ouvindo Carly Simon e Phil Collins e muitas das minhas músicas preferidas , longe do computador e da internet e como tive o atrevimento de confessar, regendo uma magistral orquestra de pássaros coloridos e cantores muito bem afinados .
Nos dias em que fico ausente não sinto dores, um certo espinho que trago no peito parece que me esquece , cochilo depois do almoço e posso andar descalço na hora que bem entender .
Essa liberdade não tem preço mas, de vez em quando penso que não existe liberdade absoluta . Também tem o fato de que alguns do meu sangue preferem saber que estou perto e nessas horas não adianta muito tentar convencê-los de que estou longe mas na verdade estou bem perto .
E assim é e assim foi . De volta para a realidade entendo que não tenho como me afastar totalmente mas que , por conta disso , também sei que são perfeitamente compreensíveis e compatíveis as minhas ausências...de vez em quando...
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(...imagem google..)