Nós e o tempo
Nós e o tempo
Equivocadamente nos referimos ao tempo como algo que passa em nossa vida. Em verdade, nós é que passamos. O tempo continua inexoravelmente imóvel no seu lugar. O tempo da construção das pirâmides do Egito (pouco mais de quarenta séculos) ou do nascimento de Cristo (pouco mais de vinte séculos) não mudou.
O tempo tem influências contraditórias. Pode ser nosso aliado. Diz-se que o tempo é o melhor bálsamo para curar as dores da alma. Entretanto, nem sempre é assim. Dependendo da dor, às vezes nem o tempo de toda uma vida é suficiente para que a dor encontre o seu lugar.
Para nós, humanos racionais, o tempo pode ser dividido em três estádios, a saber: passado, presente e futuro.
"O presente o que é?
breve momento;
d’incômodo ou desgraça;
ou de prazer, que passa;
mais veloz que o mais rápido pensamento;
o que nos resta?
resta a saudade".
A saudade, talvez o mais humano dos sentimentos, é consequência do tempo. Sua filha predileta, expressa, na maioria das vezes, ausência, vazio, perda.
A saudade é apanágio dos humanos. É um sentimento que está presente apenas na mente e porque não dizer na alma das pessoas. Os demais animais não têm esta faculdade.
A saudade é resultado da memória que armazena as lembranças. Às vezes o peso das lembranças marca os dias como anos e os anos como séculos. Aí temos um efeito das lembranças, ampliando exponencialmente o tempo.
Deus, para os crédulos, parece não ter muita pressa. Por ser atemporal, para Ele tudo é ontem, hoje e amanhã. Ele ao nos criar criou também o tempo. Esta tese é defendida por Santo Agostinho. Assim, nós estamos condenados a viver dentro do tempo. O tempo é nosso cárcere.
Atribuem a Santo Agostinho o seguinte pensamento: "De onde veio o tempo? Veio do futuro que não existia ainda, entrou no presente que não tinha nenhuma duração e foi para o passado que tinha deixado de existir". Ouso discordar do pensamento do grande Santo e teólogo. Dependendo da pessoa, o passado nunca deixa de existir. Cristo, embora passado, continua muito presente através do seu exemplo de vida. Mesmo aqueles que não O consideram o filho de Deus aceitam-NO como um homem excepcional cujo passado estará sempre presente como exemplo de vida para os pósteros. Assim, em teoria, o passado pode perpetuar-se.
Há momentos na vida que são eternos para nós. Os segundos viram minutos, os minutos horas, as horas dias, os dias meses, os meses anos, os anos séculos e os séculos se eternizam.
A complexidade e a perfeição da criatura humana, com mente e alma, permitem que certas abstrações tornem-se tangíveis.