NAS PEGADAS DO CAFÉ

Quatro horas da manhã. Ou madrugada? Seja o que for....... escuro. Muito frio. E os carros com os faróis acesos se direcionam ao aeroporto. Em busca do grande pássaro prateado que os levará acima das nuvens. Não é mais prateado. É branco. É um avião. Destino? Rio de Janeiro. Para desfrutar das belezas e ‘desbelezas’ da cidade maravilhosa? Até que ponto ...... não, é o destino parcial. O final é Vassouras. Mais final ainda, Conservatória.

O grupo de pessoas que estava nos carros se reúne no lobby do aeroporto. Mais precisamente na área de embarque. Conversas ruidosas, risos. Mulheres, poucos homens. Ah! As tantas mulheres que encantam o planeta!

E o voo inicia. Assentam-se em seus lugares. Entabulam-se conhecimentos, de Curitiba, de Guarapuava. De onde mais ? Dos cantos do Paraná.

A paisagem carioca se descortina. Descem alvoroçados, carregando, puxando bagagem, prontos para outra etapa. De ônibus, que os levará ao Vale do Café.

Estrada tortuosa. Os buracos e solavancos servem para lembrar a todos que estamos acordados, apesar dos cochilos, e até alguns roncos. É o caminho para mais uma visita turística, mais um entretenimento cultural.

Chegada a Vassouras. Descem malas, sobem malas pelas escadas do Hotel Mara. Do Mara Palace Hotel. Mais uma pequenina caminhada, uma subidinha, um elevador e as portas dos quartos se abrem. Com a chave e não com “abre-te, sésamo”!

Acomodadas, as pessoas decidem seus próximos passos. Para a direita, para a esquerda. Enfim, nem um nem outro. No bondinho, em frente ao Hotel, guiadas pela Mariana, sobe ladeira, desce ladeira. Entra aqui, sai acolá. E a história dos Barões do Café vai sendo contada e cantada por aquela personagem que cativa a todos com seu sorriso largo e caloroso. “Ora, veja!” E conhecemos as histórias da aristocracia brasileira com suas proezas sociais. Mas também com algumas pitadas de fofoca, que nos tirou sorrisos brejeiros dos rostos.

Fazendas. Trabalhar em fazendas? Não! Visita-las, conhece-las. Saber de suas curiosidades, dos amores que florescem no vende e compra do passado e do presente. A fazenda reformada foi testemunha de um amor que floresceu entre obras. E na manutenção da Fazenda amadurece entre requintes ambientais, elegância e na satisfação em receber visitantes que se deleitam com o bom gosto observado.

Espiar curiosamente o “modus vivendi” da época, passada no século dezenove. E aflora em nossas mentes, pela referência histórica, a vida, as voltas e reviravoltas dos senhorzinhos, das sinhazinhas, que com seus vestidos rodados, recobertos de rendas e armados com anáguas engomadas, enfeitavam os salões de baile, as alamedas dos casarões, as carruagens. E também os saraus acalantados aos sons dos pianos, violinos e abrasados com olhares que demonstravam sentimentos guardados no peito, sem serem expressos em palavras ou declamações, mas entendidos em convincentes convites silenciosos.

Os saraus, de agora, se multiplicam. Na fazenda de cuidados argentinos, os estonteantes tangos, que entusiasmam a plateia que ovaciona deliciada a apresentação musical primorosa. E a caminhada entre casarões, campos e música continua. Na alameda de petit pavê, percorremos o caminho que nos leva ao piano cujo som se propaga célere e encantador dentre mãos e dedos do exímio pianista.

Transportados pelas rodas modernas do século vinte e um, alcançamos o sarau histórico que nos presenteia com os fatos reais, porque são verdadeiros e porque envolviam a aristocracia cafeeira.

E adiante, longe, pela estrada esburacada, sinuosa, um som forte, forte, alto, alto penetra pelos nossos ouvidos a dentro. Se fosse mais suave seria do agrado geral. Mas não agradou, que pena......... enfim, mais um canto que foi ‘achado’ a duras penas; penas não, a duros sacolejos!

Todavia, nem só de música fartam-se as pessoas. De sabores, paladares das comidinhas que agradam a vista e aos estômagos que nem estão famintos, mas não resistem às delícias das cozinhas de onde quer que visitem.

Esses prazeres continuam com as serenatas noturnas, nos chorinhos que entusiasmam a todos pelas melodias conhecidas, mas sempre contagiantes no ritmo, no toque do cavaquinho que vai além do talento musical...

Junto com o chorinho deslumbrante, a conversa animada em torno de uma mesa, de algumas cervejas pretas, de inverno. Existe cerveja de inverno? Sei lá ... Mas, completava a conversa opinativa sobre circunstâncias da vida.

Com todas estas distrações inusitadas, não faltaria a ‘comprinha’. Um paninho aqui, um enfeitinho acolá... as sacolinhas abundavam nas mãos destes turistas que nem o são verdadeiramente falando. São brasileiros desfrutando dos encantos escondidos entre as montanhas verdejantes da nossa terra fluminense.

Tereza Freire
Enviado por Tereza Freire em 03/08/2016
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