O Pintor
Com a tela nas costas procurou a paisagem...
As cores de sua preferencia misturava seu pensamento...
Andou por muitos lugares até o cansaço indicar uma sombra para refazer-se...
Suspirou e descarregou a tela colocando com todo cuidado no chão vivo em poeira amarelada...
A mochila com as cores e conteúdos de sua arte encostou-a na árvore escolhida...
O sol da manhã mais quente daquele dia mas o vento passeava com as folhas e a terra sobre o chão...
Sentou-se então tirando o chapéu e o óculos passou seu lenço vermelho em suas lentes...
Fechou os olhos e passou o lenço nas pálpebras para retirar levemente o pó úmido pelo suor...
Quando colocou seus olhos na lente ficou extasiado com tamanha paisagem em sua frente e nem percebera antes...
Levantou-se e montou o cavalete e firmou-o na terra virgem fixou sua tela pois o vento curioso tentou vê-la e quase a derrubou não por ser estabanado mas passou sentiu o objeto estranho aos seus olhos de vento e voltou lendo o pensamento daquele homem que já acariciou antes em outros lugares...
Pegou seu banquinho na mochila desdobrou-o, e suas tintas em aquarela suspirou e visualizando aquela paisagem esperou um certo momento para que a inspiração retomasse sua mente e mãos.
Pegou a tinta preta e pintou toda a tela esta cor acalma qualquer tinta que venha a surgir em sua inspiração...
Assim o primeiro personagem foi inspirado como reflexão para o próximo ato de sua inspiração e tomando formas em sua mente e mãos.
Começou pelos olhos pintando com azul, olhos da solidão e através deles bem no centro com pincel pêlo pequeno pintou as paisagens antigas de sua vida até então e assim a imagem da solidão trazendo as lembranças felizes e infelizes de sua vida embora infelizes as ricas experiências de vida, o desenho tomou forma na menina dos olhos azuis pois só é vivida para aqueles olhos e somente com muita atenção outras pessoas amantes da arte consiguirão senti-las também...
Satisfeito com sua obra a reflexão sobre a solidão e as lembranças ficaram perfeitas...
Parou por um instante e olhou novamente a paisagem a sua frente tomou folego e continuou pelos lábios, com contornos seguros e suaves porém com a cor roxa...
Uma cor secundaria e criada com a voz do amor próprio e seguro, e muitas vezes extraordinariamente feliz conta os quadrinhos de sua vida, e verdades mentidas, falsidades escondidas, ruídos de arrependimento e enfim a força no eco do perdão...
Na tela com os lábios entre abertos delicadamente esboçou os dentes serrados.
Seria a paixão mastigada para que os lábios pedissem um beijo, um perdão.
Enfim a boca esta completa.
Falta algo...
Ah!
Disse ele...
As orelhas, as arcas dos tesouros escondidos e segredos contidos por muitas vezes explorados pelos amantes da destruição ou do amor pleno, um microfone do cérebro.
Saber ouvir é um ato complexo...
A surdez segundo ele é a cera da maldade que lustra a alma para o desanimo...
Começa e termina sempre numa má audição.
A tela está completa.
A cor das orelhas?
Verde...
E no final da tela assinou seu nome...
Recolheu a tela e o cavalete, seu banquinho que guardou na sua mochila.
Lavou seus pincéis com a água que trouxe numa garrafa térmica colocando-a num copo de plástico com medidor.
Com a tela nas costas e a mochila na mão voltou para o seu caminho e sumiu...
A paisagem?
Uma rua sem saída com construções altas em todos os lados menos em sua entrada.
O chão?
Asfalto e pequenas calçadas...
A assinatura?
Ele escreveu assim... (á todo tempo é permitido compartilhar seus sonhos e felicidades pois sempre há paisagens a serem exploradas e vividas em comunhão)
Assinado: Sr.Tempo