A canção de agosto

A Canção de Agosto



Era uma história mais ou menos assim, que ele dizia para ela: olha, essa música que você está cantando, repare na letra, é triste, fala de uma pessoa sozinha na vida, e tudo o que ela quer, ou melhor, a única coisa que ela quer é um abraço. Se você não sentir isso, como poderá cantar?

Gostaria de ter ficado ali para conversar com eles. Quem sabe noutra ocasião. Estava atento ao próximo degrau da escada.

O próximo degrau era do formato de uma concha. Um sujeito metido num corpanzil alertava um rapazinho: Se cuida, você pode pegar caxumba. O rapazinho retrucou: desacredito, eu não uso o meu corpo para ter doenças.

Ruminei escadaria acima, a máquina de agosto promete movimento, embora prescinda de todas as suas peças funcionando. Caso isso não ocorra teremos desequilíbrio positivo, veja que curiosa associação de sentidos. Isso porque o incremento de movimento prometido para o citado período significa aumento de luz, e como é sabido luz traz consigo informação, informação expande horizontes, quando isso ocorre novas oportunidades pipocam, o que por sua vez acarreta transformação.

Ainda existem brasileiros pedindo guerra civil. O que essas pessoas precisam, de uma lobotomia?


Finda a escadaria um tipo de voz e aparência transcendentes fala para uma pequena platéia que escuridão, mal, pessoas ruins, céu, inferno, necessidade de salvação, etc., é tudo balela. Não há escuridão. Não há Lúcifer. Não há nada disso. É simplesmente um jogo que as pessoas foram programadas para jogar.

Ele encerra dizendo: Liberdade é a liberação da mentira.

Me detive o quanto pude nessa conversa.

Esperava caminhar para além de coisas que já não condizem.

A canção de agosto, pelo que pude apurar em pesquisas recentes, remete a equação de que todo o pensamento não incorporado à uma abordagem holística centrada no coração do Ser é apenas uma ilusão.

Falando em pesquisas, existem hoje mais pessoas vivendo em regime de escravidão do que em qualquer outro período - são 29 milhões, de acordo com estudos realizados por entidades atentas a esse problema.

Já não vislumbro escadas ou planícies, sinto uma bússola doidivanas difícil de ser descrita.

Acabo de me lembrar de um fato ocorrido há pouco mais de uma década. De certa forma, na sua raiz está o dado embutido no início desta crônica. Durante um vôo doméstico nos Estados Unidos, em aeronave de médio porte, um dos passageiros passa mal, age de modo perturbador, a tal ponto que toma uns sopapos de outros passageiros e tripulação e por fim cai duro no chão, para todo o sempre. Em terra, feitos os exames, constatou-se que o homem sentira uma dor tão grande que já não respondia por seus atos. Uma cabeça pensante fez a interpretação fundamental: tinham 10 pessoas para espancá-lo, e
nenhuma para ajudá-lo.

Eu sei, a gente volta pro mesmo ponto, invariavelmente, haja o que houver e reduzimos a complexidade humana a uma caixa de sabão em pó.

Se a canção de agosto não surtir efeito, temos setembro.


(Imagem: John Lurie)
 
Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 02/08/2016
Reeditado em 23/06/2020
Código do texto: T5716840
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