As diferentes faces das manifestações políticas: o que os protestos têm a nos dizer?
No último dia 31 de julho, novamente ocorreram manifestações pró e contra o “impeachment” da presidenta Dilma Rousseff em muitas cidades e em mais de 20 estados brasileiros, convocadas por grupos organizados que, sobretudo, buscam muito além do simples afastamento da presidenta democraticamente eleita. São contingentes populacionais insatisfeitos por motivos variados, e que muitas vezes são desconhecidos pelos próprios manifestantes. São os revolucionários sem causa, havendo também àqueles contaminados pelos discursos midiáticos de ódio ao Partido dos Trabalhadores. O que ocorre, na verdade, são disputas por interesses de ambas as partes.
De um lado, concentram-se os neo-manifestantes, cuja característica é a experimentação recente das ruas como espaço político, simpatizantes de partidos de centro e de direita ou simplesmente contrários ferozmente ao Partido dos Trabalhadores. Vestidos com camisa oficial da Confederação Brasileira de Futebol, cujos presidentes estão encarcerados por corrupção, bradam reinvindicações em prol da ditadura militar, privatizações, estado mínimo, escola sem partido e outros quetais. São contrários às ideias de Paulo Freire, Leonardo Boff e Chico Buarque. Propugnam repúdios a Programas que focam o acesso a serviços públicos a populações historicamente desfavorecidas, como alimentação pelo Bolsa Família, habitação pelo Minha Casa Minha Vida, saúde pelo Sistema Único de Saúde, médicos pelo Programa Mais Médicos, ensino superior pelo Prouni e Cotas. São a favor da meritrocracia em uma sociedade extremamente desigual e com oportunidades diferenciadas, querem o fim da corrupção dos políticos do PT, em um contexto de corrupção generalizada, e uma melhora na economia brasileira, ao passo que a crise assola países do mundo inteiro. Representam uma unidade, uma singularidade, um não-pluralismo: a maioria brancos, jovens, de classe média-alta e frequentemente beneficiários dos inúmeros programas do governo petista dos últimos anos. Querem, imediatamente, a saída da presidenta Dilma e do PT, independente da sua vitória na última eleição.
No outro polo, encontram-se manifestantes que buscam a garantia constitucional dos direitos adquiridos pela população, incluindo a própria eleição da presidente Dilma, cuja vitória se deu legitimamente nas urnas. Além do mais, no processo de cassação do mandato não foi evidenciado nenhum motivo que justificasse seu afastamento, tendo em vista que, segundo a Constituição Federal, insatisfações com qualquer governo devem ser consideradas nas eleições e não devem balizar qualquer tipo de impeachmant. Mas essa manifestação vai além, caracterizando-se como uma luta pela garantia à saúde, alimentação, habitação, educação, segurança, previdência, aposentadoria e dignidade humana, respeitando o princípio da equidade no acesso a bens e serviços públicos. Mas o que chama atenção nesse movimento pró-Dilma são a diversidade e a pluralidade de seus manifestantes, diferentemente da sólida unidade do grupo contrário à presidente. São negros, brancos, indígenas, idosos, estudantes, jovens, intelectuais, analfabetos, agricultores, religiosos, ateus e outros que pertencem aos mais variados perfis e estilos de vida. São pessoas acostumadas com as lides revolucionárias. É um movimento representativo, que agrega o perfil da maior parte da população brasileira.
Portanto, são movimentos completamente distintos, diferenciados, opostos e que refletem a dualidade instituída nos últimos tempos no Brasil. Devem, portanto, ser incentivados, cultivados e utilizados como mecanismos justos da democracia, tendo em vista que essa deva ser o objeto de organização social, inclusive com a garantia do pleno exercício do mandato da presidenta Dilma Rousseff.