Faxina utópica
Estando todos amontoados no fundo da salinha de limpeza no intervalo do serviço, os acessórios assistiam a TV 7' polegadas que era de um dos faxineiros do Congresso Nacional.
A vassoura ficava indignada com alguns pronunciamentos de parlamentares. A escova até rangia os dentes. Os panos de chão ficavam revoltados.
- Até quando vai ser assim! - Bradou a vassoura.
- Já tenho dois meses de casa e estou toda destruída.
- Não entendi - disse a escova.
- É que já deveriam ter me substituído. Não aguento mais passar perto daqueles falastrões arranhando o piso!
- Esquenta a cabeça não magrela - disse a escova. Eu tenho que entrar em atrito com cada bequinho que você não aguentaria nem um minuto.
- Opa! - Interrompeu o pano de chão.
- Falando nisso, aqui, ninguém é pário pra mim. A final, sou eu quem passa por todo o piso desse tenebroso lugar tirando as marcas de sujeira dos belezões.
De repente entra um funcionário e despeja um aspirador de pó na salinha.
Em meio a olhares desconfiados, ele diz:
- Calma aí gente, eu não vim tomar o lugar de ninguém, apenas vou fazer o meu trabalho.
- Que nada! Já era hora de alguém dividir a tarefa com a gente - comentou a vassoura.
- Quando me compraram eu ouvi o vendedor dizer que eu faria uma limpeza magnífica onde me levassem, pois tenho bocal multiuso, bocal para tecido, bocal para pisos, bocal de estofado e BOCAL ESCOVA – disse o aspirador se gabando perante os outros.
- Ah! É verdade? - Exclamou a escova.
- Então estarei aposentada em breve, que maravilha! A propósito, que tipo de limpeza você pode fazer com todos esses apetrechos? Limpeza ética e moral também?
- Não, aí não né escova! – Ralhou o pano de chão.
- Ele é aspirador e não um milagreiro!