O LADO FEIO DO AMOR

Vi uma foto de um casal essa manhã e, na legenda, falavam das discussões, de tudo que irritava um no outro, de como se xingavam, mas sempre se arrependiam, conversavam e se desculpavam. Percebi então, que na maior parte das demonstrações públicas de afeto as pessoas sempre pulam essa parte. Não deveriam.

Tudo é lindo e perfeito. Essas coisas ninguém conta, sobre isso ninguém escreve. O lado feio, grosso, bruto e insensível do amor. Esse, todo mundo esconde. Sim, o amor também tem seu lado feio. Aliás, tenho pra mim que é justamente na ausência de beleza, da calmaria e da paciência — acredite, relacionamento requer muita paciência — que encontramos amor. E é justamente por ele que ficamos ali e buscamos sempre uma nova forma de conciliar as diferenças.

É pelo tal do amor que silenciamos, quando a vontade é gritar e mandar pra puta-que-pariu, mas é por amor que a gente abre a boca e manda também. Pro quinto dos infernos, mais conhecido como "aqui do meu ladinho". Afinal de contas, ninguém se importa em discutir quando a atitude/erro do outro é indiferente.

Indiferença é ausência. É tanto faz. É não sentir. E não sentir não cabe num relacionamento. Ao menos, não em um de verdade.

Também cabe ao tal amor — viu quanto peso ele carrega? — mostrar que apesar de tudo, vale a pena corrigir os enganos, vale a pena escancarar o peito, mandar o orgulho se foder e pedir desculpas, vale a pena ficar. Mais uma vez, pra sempre. Sim, amar é escolher entre orgulho e compreensão. Orgulho manda embora. Compreensão faz voltar. Mais uma vez, pra sempre.

Portanto, desejo que as brigas nunca cessem, que os casais ainda se mandem pra longe muitas vezes para que, entreolhares, consigam enxergar a vontade de ficar e o medo da ausência do outro. Do corpo e do amor que a gente, mesmo de longe, consegue sentir, consegue ver e, muitas vezes, até tocar.

Desejo toda felicidade do mundo para os casais que sabem viver e amar o lado feio do amor (também).