(Imagem Google)
 
 
- "Não ande atrás de mim, ande ao meu lado", disse meu pai já irritado comigo quando eu, por duas ou três vezes, pisei no seu calcanhar.
Caminhávamos por uma trilha muito estreita que mal cabia uma pessoa. O mato já a ladeava precisando de uma capina.

Com apenas 7 anos, e com dificuldade para acompanhar seus passos largos e apressados, eu me esforçava também para entendê-lo. Estava confusa. Não sabia como acompanhá-lo. Já havia tentado andar à sua frente, mas meus pequeninos passos o atrasavam embaraçando seu caminhar.
Ele pegou minha mão e disse: - “Zaninha, quando a gente está andando com uma pessoa, a gente anda ao lado dela. Não anda nem à frente e nem atrás, filha. É ao lado”.
E com a sua mão segurando a minha percorremos aquela trilha até chegarmos ao rio.
Havia aprendido uma lição para a vida que jamais esqueceria.

Naquele dia eu estava saltitante de alegria. Não cabia em mim. Finalmente havia chegado minha vez de ir pescar com meu pai. O “rodízio” para a pescaria com ele era feito entre os quatro filhos mais velhos, pois no seu Motor Jawa só tinha lugar para um garupeiro.

- “Segura bem no papai e não solta”, ele dizia, me colocando na garupa. Eu atarraxava meus bracinhos à sua cintura tentando contorná-la, e tinha que me segurar com as mãozinhas agarradas à sua roupa.
Amava sentir o vento no rosto desarrumando minhas tranças enquanto via as casas, árvores e pessoas passarem velozmente por mim. Sim, quietas e imóveis, elas passavam por mim. Tudo ficava para trás.

À beira do Rio Grande, em Uberaba, meu pai me dava uma varinha de bambu e me ensinava a colocar a minhoca no anzol. - “Muito cuidado para não espetar o anzol no dedo”, dizia com seu zelo peculiar.
- “Quando você sentir que tem alguma coisa puxando a varinha pra baixo é o peixe”.
Indescritível a alegria quando pesquei uma piabinha. Aquilo foi um prêmio, um troféu.

No final da tarde meu pai estendia uma toalha sobre a relva e abria a cesta de piquenique que minha mãe havia arrumado pra nós. Pão com mortadela e ki-suco. Aos meus olhos um banquete sem igual.

De volta pra casa, orgulhosa e não cabendo em mim, falante e com minha piabinha-troféu nas mãos, mostrava para meus irmãos e minha mãe, meus seguidores, fazendo-lhes inveja.
Ah, se eu tivesse um facebook naquela época.

Só pra constar, isso não é história de pescador.


Suzana França
30/072016



PS: Volto no sábado.


Um Poetrix/Interação/Zoação do amigo Beto bp:
 
 


 
Suzana França
Enviado por Suzana França em 30/07/2016
Reeditado em 30/07/2016
Código do texto: T5713624
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