O Clube da Vassoura
Não, não falaremos sobre a figura mística ou mítica que aterrorizava o imaginário cristão das áreas setentrionais que com sua vassoura sobrevoava enfeitiçando incautos fanáticos.
Nem se trata do personagem maldoso dos contos infantis.
Eu, particularmente, aproveito o texto para catarsear minha neurose infantil: o medo da bruxa tão recalcado em mim pelos familiares. Eu morava na mesma avenida onde moro. Enquanto todos, naqueles idos dos anos 60, tinham medo de assombrações trazidos do imaginário rural, eu temia a bruxa. Não havia televisão. Todos ficavam na cozinha buscando o último calor do fogão a lenha, ou em seus quartos ouvindo rádio e eu vigiava a rua. Espreitava pela janela além da enorme varanda quando a bruxa surgiria na avenida abaixo ou avenida acima.
Em meu imaginário de criança ela viria de seus passeios noturnos em sua vassoura para entrar em sua casa: uma sombra projetada de um telhado no prédio que se opunha. O pavor era tanto que me vazia ver a sombra tridimensional naquela forma piramidal volumosa ser a misteriosa casa da bruxa que durante o dia sumia levando o mistério e o medo consigo. Eu esperava, esperava e a bruxa não vinha nem avenida abaixo e nem avenida acima. Eu acabava dormindo e nem em meu pesadelo ela aparecia.
Não é que nestes tempos pós-modernos se você pela manhã sair naquela avenida verá em meio às brumas serranas e invernais vultos e silhuetas com suas vassouras na mão?!
Não, não são bruxas que erraram o horário. São sexagenários varrendo a avenida acima e avenida abaixo.
Sim, senhores! Aposentados que para ocupar o seu dia vão varrendo. Compraram a ideia dos tempos de hoje que cada comunidade deve cuidar de seu espaço!!! Entre estes se encontra meu irmão que madruga, pega sua vassoura e se agrega à turma de varredores. Depois passa o dia e noite reclamando de dores no corpo.
Outro dia eu o adverti:
- Enquanto vocês se dispuserem a fazer o papel de gari, a prefeitura se sentirá desobrigada de providenciar a limpeza das ruas embora continue no direito de aumentar os impostos municipais. E mais! Vocês com a vassoura na mão estão tirando o emprego de varredores de rua: uma vez que a rua está sendo limpa, contratar mais garis para quê???
Passou.
Nestes dias mais frios os sexagenários desapareceram por completo. Escondidos em suas casas, abrigados em suas camas nas manhãs invernais, guardaram seus instrumentos de passatempo: as vassouras.
No último fim de semana deu na cidade uma ventania danada. A avenida ficou toda enfeitada de folhas e flores murchas levadas pelo vento. Passou o sábado, o domingo e segunda-feira assim. Nenhuma das cabeças grisalhas se atreveu a limpar a rua tanto que o frio cortava e o vento uivava. Não deu outra: na terça e nas outras feiras apareceu um casal de gari contratado pelo poder municipal. Alegres e sorridentes varriam e coletavam o lixo. Paravam de vez em vez para tomar seu café, certos que no final do mês receberão seus salários porque os impostos estão sendo pagos.
Se você faz e paga pelo serviço desobriga ao outro de exercer a sua competência e dever. A crise é só uma bruxa que o poder público inventou para manipular a política a favor de suas partes: partidos que politicam enriquecendo os que engordam às custas do trabalho dos oprimidos.
Não, não falaremos sobre a figura mística ou mítica que aterrorizava o imaginário cristão das áreas setentrionais que com sua vassoura sobrevoava enfeitiçando incautos fanáticos.
Nem se trata do personagem maldoso dos contos infantis.
Eu, particularmente, aproveito o texto para catarsear minha neurose infantil: o medo da bruxa tão recalcado em mim pelos familiares. Eu morava na mesma avenida onde moro. Enquanto todos, naqueles idos dos anos 60, tinham medo de assombrações trazidos do imaginário rural, eu temia a bruxa. Não havia televisão. Todos ficavam na cozinha buscando o último calor do fogão a lenha, ou em seus quartos ouvindo rádio e eu vigiava a rua. Espreitava pela janela além da enorme varanda quando a bruxa surgiria na avenida abaixo ou avenida acima.
Em meu imaginário de criança ela viria de seus passeios noturnos em sua vassoura para entrar em sua casa: uma sombra projetada de um telhado no prédio que se opunha. O pavor era tanto que me vazia ver a sombra tridimensional naquela forma piramidal volumosa ser a misteriosa casa da bruxa que durante o dia sumia levando o mistério e o medo consigo. Eu esperava, esperava e a bruxa não vinha nem avenida abaixo e nem avenida acima. Eu acabava dormindo e nem em meu pesadelo ela aparecia.
Não é que nestes tempos pós-modernos se você pela manhã sair naquela avenida verá em meio às brumas serranas e invernais vultos e silhuetas com suas vassouras na mão?!
Não, não são bruxas que erraram o horário. São sexagenários varrendo a avenida acima e avenida abaixo.
Sim, senhores! Aposentados que para ocupar o seu dia vão varrendo. Compraram a ideia dos tempos de hoje que cada comunidade deve cuidar de seu espaço!!! Entre estes se encontra meu irmão que madruga, pega sua vassoura e se agrega à turma de varredores. Depois passa o dia e noite reclamando de dores no corpo.
Outro dia eu o adverti:
- Enquanto vocês se dispuserem a fazer o papel de gari, a prefeitura se sentirá desobrigada de providenciar a limpeza das ruas embora continue no direito de aumentar os impostos municipais. E mais! Vocês com a vassoura na mão estão tirando o emprego de varredores de rua: uma vez que a rua está sendo limpa, contratar mais garis para quê???
Passou.
Nestes dias mais frios os sexagenários desapareceram por completo. Escondidos em suas casas, abrigados em suas camas nas manhãs invernais, guardaram seus instrumentos de passatempo: as vassouras.
No último fim de semana deu na cidade uma ventania danada. A avenida ficou toda enfeitada de folhas e flores murchas levadas pelo vento. Passou o sábado, o domingo e segunda-feira assim. Nenhuma das cabeças grisalhas se atreveu a limpar a rua tanto que o frio cortava e o vento uivava. Não deu outra: na terça e nas outras feiras apareceu um casal de gari contratado pelo poder municipal. Alegres e sorridentes varriam e coletavam o lixo. Paravam de vez em vez para tomar seu café, certos que no final do mês receberão seus salários porque os impostos estão sendo pagos.
Se você faz e paga pelo serviço desobriga ao outro de exercer a sua competência e dever. A crise é só uma bruxa que o poder público inventou para manipular a política a favor de suas partes: partidos que politicam enriquecendo os que engordam às custas do trabalho dos oprimidos.
Leonardo Lisbôa,
Barbacena, 29/07/2016.
ESCREVA PARA O AUTOR:
conversandocomoautor@gmail.com