Salto Mortal

Sentia medo, um friozinho na boca do estômago, as pernas bambeavam, teve uma leve tontura, evitou olhar para baixo. A platéia estava ansiosa esperando pelo salto mortal, fazia silêncio, mas exigia ação. Ela tinha suas razoes, estava num circo, e o salto mortal fazia parte do show. O povo ama o circo, ele está se lixando para causas, ideologias, posição política, ética, cidadania e o escambau. Para ele basta um pouquinho de pão, uma cachacinha e muito circo. Antes, notempo da Rona antiga, a diversão era ver os leões devorarem os cristãos. A massa delirava torcendo pelos leões e tigres. Ficava feliz exultante, a mesma massa que preferiu Barrabás a Cristo.

Chegou ao ponto onde iria ralizar o salto mortal. Tinha consciência que o trapézio estava gasto, havia até feito uma gambiarra nele, sabia que o salto era uma loucura e que, pior, não havia rede. Resirou fundo. Antes de realizar o salto triplo e mortal reviu em alguns segndos toda a sua vida. Fora uma vida fugaz, mas com bons momentos. Era hora de realizar o salto, o salto no escuro, no vazio, o salto mortal. Saltou, a platéia se agitou. Mas não pediu bis. O trapezista morrera.

Otrapezista podia ser um país? Não sei. Mas o povo quer o salto mortal. O povo quer vibrar com o circo. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 27/07/2016
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