O perfume.

Havia tempo que não possuia tanta disposição para uma noite de sonhos. Acreditava que com o passar dos anos o casal perdera aquele ímpeto do início da relação, de atração intensa chegando a causar inveja a todos que os vissem juntos.
Sentia a falta daqueles momentos de prazer e de algumas estripulias que pareciam esquecidas no tempo pelo desgaste normal da maioria dos casais.
Sentia-se estimulado com as ardentes lembranças de um passado não muito distante e com isto sempre se perguntava: porque tamanha mudança?
Fato é que abominava a ideia de estar envelhecendo e que a chama estivesse se apagando, com isto procurou fazer daquele momento uma amostra do que seria a vida a partir dele.
Rotina não era presentear a amada, mas fez questão, para fazer daquela noite a melhor dos últimos tempos, de abrir a carteira e comprar uma bela joia.
Tudo parecia perfeito quando chegou a noite, aproveitando ainda o fato dos filhos já crescidos estarem viajando, deixando assim os "pombinhos" livres para uma reedição de um tempo  guardado apenas na memória.
A esposa parecia ter entendido o recado quando recebeu o presente inesperado. Vestiu-se de forma provocante, com a mais sensual das peças que guardara para uma ocasião especial com o intuito de apimentar ainda mais aquela cena esquecida no tempo.
Providenciou o melhor vinho que havia, com um jantar a luz de velas antecipando o clima de romantismo, que chamou de "segunda lua de mel".
Quando tudo parecia conspirar a favor, o que não estava programado foi que ao se aproximar o início de carícias mais ousadas, com os corpos entrelaçados de ardente desejo, foi a crise alérgica causada pelo perfume, que fez com que ela não parasse de espirrar, quase tendo um edema de glote, despertando assim um anticlímax tão grande que após cada um virar para um lado, antes de dormir, ouviu ainda uma última reclamação da mulher.
- Também foi comprar este perfume vagabundo de merda, deu nisso. atchim...