A ELEGANTE SENHORA

Outro dia, enquanto esperava na fila do açougue, no supermercado, fiquei observando uma senhora elegantíssima à minha frente que aparentava idade avançada. Mas de cabelo bem pintado, arrumado e rosto maquiado. Com voz firme ela pediu várias coisas: um quilo de coxão duro cortado em cubinhos, seiscentos gramas de contra filé em bifes, dois peitos de frango, meia dúzia de coxas... Não sei por que achei que podia ser a mãe de uma conhecida nossa e perguntei. Era. Então eu me apresentei e conversamos um bom tempo. Ela se lembrou perfeitamente da minha família, meu pai, minha mãe, tios, tias, todos já falecidos. Contou-me algumas histórias do passado com bastante clareza, como se fossem acontecimentos recentes. Disse também que gostava de fazer as compras, pois aquele era o dia dos filhos e netos almoçarem em sua casa. O melhor dia da semana. Fiquei impressionada com sua lucidez e boa disposição. Além do mais estava ali sozinha a empurrar o carrinho, aos noventa e dois anos! Ela não disse, mas tenho certeza de que alguém, provavelmente um motorista de táxi, a esperava do lado de fora.