DEMASIADO PÂNICO
Sem algum medo aparente o coração acelerou os batimentos. Passei a sentir uma ardência no peito. Nada me dizia que não havia chegado a hora. Baforava agonia. Logo vieram um atordoamento e um frio ignoto, – Passivos de entorpecimento. No encontro com a morte, eu estava como vim ao mundo... - Nu. De alguma forma, a razão vagueou pelas ruas do mundo, como se fora um devaneio remissivo... – E pude repetir os meus engonços sem reprimir nada. Como parte do filme: o fulgor das auroras; uma flor de mata virgem; meninos pulando do aceiro de um rio; uma paisagem pela janela do ônibus, e a lua borrando as estradas para mostrar o caminho da volta pra casa; todas as minhas mulheres de saias plissadas num canto da sala; um quadro pintado com o rosto de minha mãe; um livro gasto de tanto ler... – Durante aquela lacuna de consciência... - O tempo não tivera significação. Apenas um poço sem fundo como valhacouto, na antessala do jugo final... - E mesmo que fosse de consternação e ranger de dentes, não havia a quem pedir clemência; pois, não vira a figura iluminada de nenhum Santo. Quem dera a carruagem de Elias subindo ao céu. Sendo assim, alguma coisa de mim queimaria no magma cuspido pelos vulcões das profundezas eternas, conforme a consignação de Deus. Deitado nos braços do nada, o veredito seria mesmo de condenação. (...) Mas, tão rápido como o baque, um fio de luz cortou os ares; e um sopro de vento me chegou aos pulmões... - Pelas ventas afogueadas da minha inércia. Estava de volta daquela viagem que parecia definitiva. A tosse era a fiança de que a moléstia me dava outra chance. Apaziguado o sofrimento, veio-me uma sensação elevada, inexcedível. Refleti, apenas, quanto às dores do mundo. Que condição de vida era aquela que me fora infligida? Desejei apenas morrer com dignidade e sem um espetáculo para os alheios.