FRAGMENTOS DE MITOLOGIA GRECO-ROMANA

1--A Grécia heróica de deuses e suas sagas tem até hoje tintas fortes na arte e na alma de cada grego - aparece no dia a dia, no bate-papo regado a vinho, nas cerâmicas e esculturas, nas ruínas ensolaradas dos templos... Em Roma, entusiasmo um tanto menor. Não há cronologia das divindades pagãs - personagens míticos, tanto do monte Olimpo como das profundezas, no contato com a natureza ou o imaginário popular. Ninfas /espíritos naturais femininos/ das fontes e águas correntes, dríades das árvores, oréades das montanhas, cavernas e grutas... ZEUS (posteriormente, JÚPITER para os romanos) é a suprema hierarquia, nos Céus e na Terra, senhor do raio e do trovão, e impera sobre todos os homens e os moradores do Olimpo. Um tanto a contragosto, divide o poder com POSEIDON/NETUNO, que domina os mares, e HADES/PLUTÃO, senhor do mundo subterrâneo.

2--Por que existem rosas vermelhas? Chipre, chamada ilha de AFRODITE/VÊNUS, em cujas praias nasceu a deusa da beleza e do amor, surgindo da espuma do mar......... Divindade protetora do lugar. As rosas vermelhas simbolizam o amor porque o sangue dos pés feridos e ensanguentados da deusa lhes deram essa cor, quando corria no campo para socorrer o amante de paixão aventureira, ADÔNIS, mortalmente ferido por um javali - sabendo-se traído, ÁRIES/MARTE, deus da guerra, amante oficial, mandara o animal na vingança da honra ultrajada......... // Uma famosa representação da deusa é a Vênus de Milo (nome moderno da antiga Melos, ilha situada na Grécia, arquipélago das Cícladas Meridionais, local das mais antigas cerâmicas, marcante predileção pela figura humana, ora pintada ora cinzelada), estátua mutilada dos braços, descoberta em 1820 pelo conde Marcélios que a ofereceu a Luís XVIII, hoje no Museu do Louvre.

3--Num tempo primitivo, cada deus tinha um inimigo para vencer e destruir, e o de APOLO/FEBO foi a serpente Pitão, versão do combate descrita por HOMERO, antes de fundar seu templo e oráculo em Delfos. Após parto muito sofrido, LETO/LATONA pariu APOLO, gerado por ZEUS, na ilha de Delfos. Precocemente, o deus da profecia fez muitas andanças pelas ilhas e escolheu um lugar onde fundou seu templo, nas serras de Crisa (hoje, porto de Itéa) - ali, na fonte de Castália, com um certeiro dardo, matou a monstruosa serpente protegida de HERA/JUNO. De todos os oráculos, o mais célebre foi Delfos (segundo HERÓDOTO, o mais antigo foi Dodona). Instalado, APOLO escolheu certos comerciantes cretenses para serem os primeiros sacerdotes: navegavam tranquilos pelo mar Egeu, procedentes de Cnossos, quando subitamente lhes apareceu APOLO sob a forma de um delfim (cetáceo, golfinho) - a essa metamorfose é atribuído o nome do oráculo. APOLO decidiu expressar suas profecias por intermédio das pitonisas (nome derivado de Pitão) - havia em Delfos uma profunda fenda da qual emanavam vapores subterrâneos que induziam ao êxtase. A pitonisa se purificava na fonte de Castália, mastigava folhas de louro, encarapitava-se numa trípode (tripé onde proferia os oráculos), inalava os vapores emanados da terra e surgia o súbito furor profético. Ruínas do oráculo de Delfos, construído em 380 a. C., originalmente circundado por 20 colunas dóricas, ainda existem, no sopé do monte Parnaso, lugar privilegiado com vista para o profundo vale do rio Pleistos. E do santuário de APOLO sobraram algumas colunas à esquerda do teatro - lugar de espetacular beleza no período áureo.

4--O povo romano, formado como nação, surgiu com a lenda de MARTE, filho de JÚPITER e JUNO, deus incontestável da guerra, protetor dos combates, terror dos deuses e das gentes primitivas. Teria sido o pai de RÔMULO (gêmeo de REMO), fundador de Roma. Venerado em particular, destacado dos demais deuses, consagrado em inúmeros templos, corpo especial de sacerdotes, encarregados de ritos e danças guerreiras. MARTE dá nome ao terceiro mês do ano e em quase todas as cidades romanas havia uma praça dedicada a ele, campo de MARTE, onde os povos se exercitavam nas práticas guerreiras. Como deus, era brutal e gigantesco, divindade particularmente adorada pelos Trácios, o povo mais bárbaro da Grécia; neste país, dedicada a ele a colina sagrada, o Areópago, em honra de seu nome grego ÁRIES. Como acontece com todo herói antigo, um dos episódios narra seus amores com VÊNUS, mulher de VULCANO, também filho de JÚPITER e JUNO, divindade dos vulcões, do fogo e metalurgia que forjava raios para o pai, e os surpreendeu em ato de infidelidade - desmoralizado e em vida de amargura, transformou em galo o criado de MARTE, sempre figurado ao pé de seu amo. // Sou um orgulhoso ARIANO, e daí?

5--Um deus no mínimo divertido e versátil, era HERMES na Grécia que virou MERCÚRIO em Roma. Filho de ZEUS, o deus dos deuses, supremo rei do Olimpo, lascivo e devasso, super mulherengo que pulava muralhas (cerca é diminutivo...) a cada mini descuido da deusa /irmã e mulher dele/ HERA, modelo e esposa e símbolo da ciumenta vingativa... (Irritada, ela até contratou um espião, ARGOS, que tinha cem olhos. Onipotente e onisciente, ZEUS mais tarde mandou que HERMES o matasse, adormecendo-o primeiro com o som de uma flauta; HERA o eternizou pondo os tais cem olhos na cauda do pavão.) De uma das muitíssimas aventuras fora do leito conjugal, a adolescente MAIA (a ninfa PLÊIADE mais jovem) gerou HERMES. Bom, diz-se popularmente: “Quem sai aos seus, não degenera”... Em guri, já era tremendo malandro - roubou 50 vacas do irmão APOLO, o deus do Sol (cabeleira loura e radiante beleza; compareceu perante o tribunal do Olimpo e, interrogado pelo próprio pai, negou tudo e, mágico-sedutor-hipnotizador-prestidigitador, mostrou a APOLO, deus dos oráculos, da poesia, da musica, da dança e da medicina, os instrumentos que inventara: a lira e a flauta; ficou com o rebanho e o também roubado cajado de ouro. Jamais pensou que ‘apropriação indébita’ é apenas eufemismo de ‘roubo’. Pegou também a espada de ÁRIES, filho de JÚPITER e JUNO, deus “raivoso” (?) da guerra, o tridente de POSEIDON, rei dos mares, e o cinto de AFRODITE, a deusa da beleza e do amor, mãe de EROS ou CUPIDO. Simpaticíssimo, o cara a quem as vítimas perdoavam numa eterna impunidade, como AFRODITE /que por sua vez também adornou muitas outras camas quentes masculinas/ a quem ele depois engravidou........ porém era ambíguo para fazer e logo desfazer um sério compromisso. Aí, nasceu o guri HERMAFRODITO, ambiguamente dois sexos numa só pessoa, HERMES, trapaceiro de primeiro time, agia geralmente à noite e zombava de todo mundo, inclusive ou especialmente das leis criadas e aplicadas por ZEUS - pai sempre derretido com ele, recadeiro e cúmplice de seus múltiplos amores, muito esperto na cama, e com SEMELE gerou o filho BACO, na mira que HERA o matasse - HERMES, a pedido do “juiz”, diga-se de passagem, salvou falcatruosamente a vida do futuro rei do vinho e em recompensa foi nomeado “mensageiro dos deuses”, mediador entre o Olimpo e o mundo dos humanos. Elaborava para os deuses os tratados de paz e de alianças. Por certo rolou muita propina. Passou a usar sandálias, aladas nos calcanhares, de incrível velocidade; entre “lá” e “cá”, negociatas mercantis nada limpas. Mais propinas... muita falação depois de um curso de oratória, em que era tudo junto e misturado: ironia, malícia, linguagem sinuosa e ambígua, menos verdades & mais mentiras, estas últimas de preferência. Sedução e engodo. Tentou implantar a república e se candidatou, recebendo um único voto. Dele para ele mesmo. No Brasil atual, daria um excelente ministro ou senador. // Ah, sim, patrono do signo GÊMEOS. Preciso dar nome de alguma AMIGA?

FONTES:

Deuses antigos”, de Jocelyn Santos - Rio, Livros do mundo inteiro, 1970 // “O roteiro dos mitos gregos” - SP, REVISTA GEOGRÁFICA UNIVERSAL, nov./94 // “Atualidade da mitologia”, de Leandro Konder - Rio, jornal O GLOBO, 7/7/96.

F I M