SCHOPENHAUER (Filologia) x HEGEL (Filosofia)
Schopenhauer, como Filósofo, a nosso ver Filólogo, não conseguiu deixar para trás uma escola que se pudesse chamar de seus seguidores, e o adjetivo schopenhaueriano nunca foi incluído na história da Filosofia, ao contrário do hegeliano que persiste até hoje. Antiético e mal educado, Schopenhauer nunca trabalhou na vida, vivendo como um avarento, à custa da herança do pai, um comerciante bem sucedido, que deixou o filósofo órfão com 17 anos. Na tentativa de se transformar num célebre professor, com sua arrogância, fracassou com grande estrondo, por conta da sua inveja do respeitado catedrático Hegel, que foi Professor de Filosofia e Reitor da Universidade de Berlim. Os Filólogos sempre estão à alguns milímetros da astúcia e do sofisma, e um pequeno descuido provocam a sua transição. Também nesta transmutação podemos incluir Schopenhauer, que receitava aforismos para os outros, como: “Para aqueles em quem a vontade negou a si mesma, este nosso mundo tão real, com todos seus sóis e suas galáxias, é nada”, cuja receita, entretanto, ele mesmo, nunca utilizou O ataque mais contundente de Schopenhauer a Hegel está no trecho da sua obra “O Mundo Como Vontade e Representação”, que transcrevemos.
“A falta de sentido e a aglomeração de palavras extravagantes e desmioladas, em grau jamais antes visto, exceto nos pátios dos manicômios; eis a tendência que, em Hegel, chegou ao ápice, tornando-se o instrumento da mais desavergonhada de todas as farsas, com resultados que hão de parecer fabulosos à posteridade
e permanecerão um imponente monumento à estupidez germânica”.
Schopenhauer não tinha discernimento suficiente, para compreender que, mantendo-se no terreno da racionalidade, exclusivamente, qualquer pessoa erudita poderá desenvolver e expressar as suas idéias com maior facilidade, mas tentando entrar no campo da metafísica, que transcende a razão, encontrará dificuldades muito maiores, e mesmo aquelas inspiradas espiritualmente, terão que se deter nas suas limitações espirituais, tanto na obtenção como na transmissão das suas complexas inspirações, enquanto os racionalistas convictos permanecem encalhados espiritualmente, mas sofismando com abundância na linguagem e rodopiando à vontade, como os cães dando voltas sobre o próprio rabo.
O próprio Kant, ídolo de Schopenhauer, que ganha de goleada na confusão das idéias, enroscou-se nos seus complicados devaneios retóricos, entregando-se, com toda franqueza e honestidade, na conclusão das suas elucubrações. Ele não foi dissimulado, e mergulhou fundo na procura do conhecimento essencial através da racionalidade, como todos devem fazer, e, não o encontrando, como ninguém encontrará através da Razão, disse-o, clara e inequivocamente, no Capítulo IV de “A História da Razão Pura”, no subtítulo Doutrina Transcendental do Método, em sua obra “Crítica da Razão Pura” (Ed. Nova Cultural). Mais do que isto, eis o trecho final da obra: “Somente o caminho crítico ainda está aberto. Se o leitor teve a solicitude e a paciência de percorrê-lo em minha companhia, pode agora julgar, caso esteja disposto a dar a sua própria contribuição para transformar este atalho numa estrada principal, se ainda antes do término da presente centúria não é possível atingir aquilo que muitos séculos não conseguiram alcançar: a saber, satisfazer completamente a Razão humana quanto àquilo em que sempre se ocupou, se bem que até agora em vão, na sua ânsia de saber”.
Considerando as conjeturas e a proposta de Kant, podemos nomear todos os caminhos mencionados, como simples atalhos, que, eventualmente e por concessão, mas nunca por meio da racionalidade em si mesma, poderá desembocar na estrada principal, a Theosophia, uma ciência supra-racional. Aqueles que adentrarem os domínios da Theosophia encontrarão os conhecimentos essenciais, ou seja, o que Kant buscou o tempo todo.
Hegel provocou a ira tresloucada e invejosa de Schopenhauer, quando expressou a sua conclusão, de que existe um sentido em tudo o que acontece no mundo, inclusive no que ocorre no curso da evolução da Humanidade, cujo sentido se traduz na expansão do Espírito, que evolui em direção ao Absoluto. Nessa direção, Hegel descarta o aleatório no curso dos acontecimentos históricos, considerando as contradições como eventos parciais, que serão superados por um processo dialético, onde a tese se defronta com a antítese, provocando o surgimento de uma nova ideia, a síntese, e esta, como progressão, se transforma em uma nova tese, reiniciando o processo sucessivamente, provocando uma contínua elevação do grau de complexidade das idéias, até alcançar a Ideia Absoluta, com a total visão da Verdade que então, elimina todas as contradições.
Essa magnífica concepção de Hegel, curta e grossa, sem a sinuosidade e sutilezas vazias dos exímios sofistas, que tumultuam e desfiguram a retórica, mergulhando-a no mais denso nevoeiro, irritou Schopenhauer, o inexpressivo, frustrado e preguiçoso Filólogo oculto, que desandou na baixaria de impropérios contra o brilhantismo do Filósofo patrício. Hegel, no entanto, não tomou conhecimento das ofensas, contra as quais nada disse que se tornasse público, uma postura digna dos sábios, ignorando a ignorância. Em suas incursões intuitivas, Hegel estava se aproximando da Theosophia e não fosse a sua morte prematura, vítima da cólera, talvez viesse a adentrá-la.
Quanto a Schopenhauer, pelas suas características, a sua melhor opção seria a Filologia, pois ele não conseguiu se aprofundar na Filosofia, e jamais poderia penetrar na Theosophia, o arraial dos conhecimentos essenciais. Além disso, aulas de boas maneiras lhe teriam sido de grande utilidade.