OLIMPÍADAS OU OLIMPIADAS...

“Dos filhos deste solo és mãe gentil, pátria amada Brasil”... Verso dotado de grande força, impactante e, porque não dizê-lo, capaz de exprimir todo o gênio do poeta. Porém, perdoem-me, se estou sendo previsível demais ou, para alguns, um tanto quanto ranzinza, mas não posso ignorar que se trata de palavras desconexas se pensarmos na realidade deste “nosso” país. Sim, as aspas foram propositais, pois há muito, talvez desde o seu “descobrimento” que esse país não é nosso, mas de alguns.

Nestes últimos dias, como nos demais sempre assíduo aos noticiários, estive refletindo sobre estas Olimpíadas em solo tupiniquim. Primeiramente, ninguém consultou a opinião do povo, simplesmente, acharam que isso seria bom para nós e decidiriam, ao bel prazer. Coube ao povo apenas acatar e encenar aquela alegria circense que os gringos acham que seja nossa maior virtude.

No entanto, como este país não é de todos, mas de poucos, a pergunta é inevitável: quais os benefícios desse evento para a maior parte da população brasileira? Nenhum. Absolutamente! Pensemos no legado dos enormes gastos dispensados na realização da Copa do Mundo, na qual, inclusive, até o brio nos foi tirado!

Na realidade, se formos pensar de forma crítica, a realização destas Olimpíadas configura-se como um tapa na cara dos brasileiros, reflexo da falta de interesse dos governantes pelas necessidades básicas do povo. E isto começa pelo simples fato de ser uma festa preparada para os gringos e para uma pequeníssima parcela de afortunados nacionais, ou seja, dinheiro de todos nós, inclusive daquele pai de família oprimido pelo salário mínimo, servindo para promover divertimento aos turistas. Quanto à grande parcela da população, terá de se contentar com a transmissão das TVs abertas.

Talvez, bonito seja contemplar aeroportos sem filas, o fluxo fluindo tranquilamente e, do lado de fora destes, homens fortemente armados garantindo a segurança. Bonito! Mas nem por isso podemos deixar de perguntar: porque o mesmo governo pode garantir segurança para turistas, nestes mega eventos, e, no comum do ano, o povo que paga os impostos têm que conviver com o perigo, com a insegurança, esquivando-se de balas perdidas, escondendo-se dos grandes traficantes e de uma polícia mal preparada?

A Vila Olímpica... símbolo do orgulho nacional, belíssimo exemplar da nossa capacidade de organizar mega eventos! Capacidade para acomodar 17.950 atletas e suas equipes, são 31 edifícios totalizando 3.604 apartamentos! Aplausos, de pé!!! Ou... esperemos antes de aplaudir: Há, mais ou menos, 1,8 milhões de moradores de rua espalhados pelo Brasil afora, sofrendo sob o frio desumano das madrugadas das metrópoles, passando fome, sendo assassinados, expostos a todo tipo de enfermidade. Crianças dormindo ao lado de cães e ratos, à mercê da caridade alheia para sobreviver. Para estes, ao contrário do que ocorreu em tempo recorde para os atletas, a política habitacional do governo, simplesmente, não funcionou!

Quais interesses estão em pauta? Qual o sentido de tudo isso? Com certeza, quantos e quantos políticos ficaram mais ricos com obras super-faturadas! E para que isso se mantenha é necessário que o povo continue em situação de miséria, dependente dessa máfia que insiste em “governar” o país! Sim, se houvesse educação e saúde de qualidade, este povo seria capaz de dar, nas urnas, sem medo, a sua resposta; mas, por enquanto, seguem refém desse sistema que usa a pobreza delas para manter o próprio poder!

Os gringos virão, e que sejam bem recebidos, esperando encontrar aqui drogas, prostitutas, alegria... O evento passará e a pobreza continuará. Tantos olhares esperando do Céu a solução. E eu, espero, sinceramente, que os olhos de tantas pessoas do primeiro mundo consigam enxergar a cidade real, aquela que existe nas entrelinhas de um discurso permeado de estatísticas. E uma propaganda mais verdadeira daquilo em que transformaram o Brasil, quem sabe, gerará, ao menos, constrangimento perante a comunidade internacional.

Incertezas... Só sei que dos filhos deste solo não tens sido uma mãe tão gentil...Brasil!

Isac Hudson
Enviado por Isac Hudson em 25/07/2016
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