CARICIAS TIPO EXIBIÇÃO

Depois de alguns anos reencontrei o Bebeto, numa destas ruas de pequeno porte, no máximo 200 metros, ele vinha abraçado na namorada, ele nascido em 1956, um ano depois de mim e ela com a idade de meu filho mais moço, nascido em 1979, fiz que não os vi, pois não desejava atrapalhar o festival de abraços e beijos, que concorriam com as passadas de ambos, quase pondo-os no chão.

Embora eu tenha disfarçado para não atrapalhá-los, ele veio na minha direção e apresentou-me a moça, disse dos planos,era pura euforia. Eu estava numa caminhada e não queria interrompê-los, então nos despedimos.

Ele apontou o prédio de três andares e disse que fixariam residência ali. Desejei boa sorte e desapareci na esquina seguinte.

Passadas três semanas resolvi dar uma espiada para ver se encontrava o casal beijoqueiro, então enveredei pela rua que havia encontrado-o, premeditadamente fiz no mesmo horário.

Embora seja uma ladeira forte, falou mais alto a curiosidade. Deu certo, encontrei-o saindo prédio. Era um dia destes de vento e frio ele com um sobretudo surrado, cabelos despenteados e um cachecol tipo o do Pequeno Príncipe, o semblante destoava com o do garoto de Antoine de Saint-Exupéry, que mais parecia a personagem raposa, sedenta por amizades.

Não resisti e pergunte sobre o casamento que se avizinhava. Ele pôs o braço sobre o meu ombro, pediu desculpas e por interromper a minha caminhada e pediu permissão para chorar um pouco.

Está certo, vamos caminhando, sem muita pressa, quem sabe até a igreja Santo antônio, que estava no máximo uns 1500 metros adiante, claro depois de algumas curvas.

Lá fomos nós, eu lembrando quando ele não tinha paciência em ouvir ninguém, mas nada disse.

Dentre tantas coisas que ele falou, engatando uma frase na outro, uma foi a pressa que tinha para reconstruir um amor, pois fazia pouco mais de um ano que separara-se depois de mais de 30 anos.

Paramos bem na esquina, enquanto esperávamos o ônibus arrancar.

Dei-lhe um susto, quando gritei:

- Bebeto, só se reconstrói o que foi construído e por alguma razão ruiu, com aquela moça tu não irias reconstruir nada, só construir e olhe lá. Afinal o que tu queres?

Ele sacou o telefone e ligou para a companheira de 30 anos e perguntou se podiam conversar!

Se ela aceitou eu não sei, mas ele saiu como se fosse um garoto feliz.

Para não ter mais surpresas não passarei tão cedo por lá.

ItamarCastro
Enviado por ItamarCastro em 24/07/2016
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