Quão bom é lembrar!
Hoje em um clima de volúpia, quase nostálgico, verdadeiro e porque não poético, venho vos lembrar de coisas que de uma forma ou de outra sentimos falta.
Na escola primária durante a avaliação, a sala de aula ficava impregnada com aquele cheirinho característico do papel estêncil, (confesso que adorava aquilo). Não dá para simplesmente esquecer. Na biblioteca ainda existiam os remanescentes; aqueles que buscavam com afinco o conhecimento espalhado por centenas de livros. É que claro que a internet ainda não existia por aqui... senão...
O jogo mais cobiçado advinha? Banco Imobiliário! Esse sem dúvida nunca deveria sair de moda, aliás, não saiu mesmo; hoje fazem o jogo até com máquinas de cartão de crédito. E na hora do futebol, fosse na quadra da escola, fosse na rua, sempre havia a presença do famoso Kichute. Já hoje, parece que as crianças não se interessam se não tiverem o Nike, Mizuno ou Puma. O que dizer então dos jogos de BETE; onde colocavam uma lata de óleo em cada ponta da rua com uma pessoa para rebater á frente segurando um velho cabo de vassoura, lembra? E os intermináveis jogos de “queimada”? Sensacional! Não esqueçamos também, é claro das brincadeiras de “salada mista”, “pega tigre”, “mulinha”, “mês”, “O stop!”, etc. Esse era o tempo em que tínhamos uma brincadeira chamada “siga ao mestre” que hoje já virou até esporte. Sabe qual é? “Parkour”.
Houve um tempo, acredite, em que as mulheres davam valor ás poesias e ás serenatas. Esse tempo certamente foi aquele onde músicas excelentes eram entoadas ao pé da janela acompanhadas de um violão. Também nessa época os homens valorizavam muito as mulheres. Deveras! Não eram como muitas “doudas” desguarnecidas de hoje à mostra como frutas na feira de domingo... Os joelhos eram vistos como um tesouro raro... O personagem clássico de Machado de Assis, o Rubião, dizia que os ombros e os braços da Sofia eram lindos e que nunca havia visto nada parecido...
E andar de mãos dadas? Esse era o “exercício dos enamorados” - que evidentemente não se assemelha com os namoros atuais que mais parecem desafiar as leis da gravidade num movimento “guindautico” explícito que não controla sequer o pêndulo e o chocalho da lombar.
E as estórias tenebrosas contadas na calçada de casa por uma pessoa mais velha, lembra? Às vezes essas estórias eram acompanhadas de uma pequena fogueira onde assávamos uma batata atravessada por um galho de árvore. Depois de contada ninguém queria voltar para a sua casa sozinho; a mãe tinha que ir até lá buscar pelo filho...
Em nossa casa ouvíamos o melhor pop rock de todos os tempos; o da década de 80: Os Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, RMP, Engenheiros do Havaí, Cazuza, Lulu Santos, enfim, foi-se o tempo em que as letras das músicas eram percebidas e bem elaboradas. Hoje, salvo raras exceções, é lamentável ver compositores do cenário do rock nacional inserindo letras desprezíveis em músicas que tem uma harmonia até que razoável. Não bastando isso, o funk ganhou espaço e a presente geração infelizmente não tomou conhecimento da década de ouro do rock brasileiro.
Ademais, existem tantas outras coisas a serem lembradas que deixarei para uma próxima crônica. Mas torço para que os valores passados não se percam totalmente com o tempo. Portanto acho que devemos nos inspirar no ensinamento de Augusto Cury quando escreveu que pais e professores precisam saber contar estórias. Isso seria também de certa forma relembrar de fatos e momentos marcantes. Lembrei-me neste exato momento de Mário Sergio Cortella: “Pensar bem nos faz bem”.