Nem toda nudez será castigada
A cena registrada e amplamente divulgada na mídia foi gravada em um banco de Foz do Iguaçu, região oeste do Paraná. Nas imagens é possível ver um homem completamente nu, que supostamente portava algum objeto metálico (impedido de acessar o interior da agência bancária), protestando contra o funcionário, que se mostrava irredutível ao extremo. Não se conhece o fim da história, mas é possível tirar algumas conclusões sobre o (nem tanto) inusitado acontecimento.
Vale lembrar que o sistema utilizado pelas agências bancárias é apenas mais um meio para dificultar a ação dos marginais e o usuário deve se adequar às medidas de contingências adotadas por cada empresa, uma vez que a própria segurança do indivíduo está sendo preservada, enquanto utiliza os serviços bancários. É fato comum observar determinadas pessoas que, talvez por não se encontrarem num de seus melhores dias (ou por falta de educação e civilidade mesmo), acabam extrapolando, vindo a causar constrangimentos. Mas naquele caso pontual do banco, tem-se a impressão de que faltou ao responsável pelo funcionamento da porta giratória um tiquinho de sensibilidade e de tato, uma vez que, por sua evidente inabilidade no trato com as diferentes personalidades presentes no ser humano, contribuiu para que se desencadeasse a sequência dos fatos, culminando com a medida extrema do peladão.
Por mais hilária que seja, a cena não nos permite emitir sequer uma única palavra de censura ou de crítica ao cidadão em questão (mesmo que sua conduta, perante a sociedade, seja considerada inadequada). Impedido de exercer sua cidadania, a forma de chamar a atenção para suas necessidades imediatas foi a de tirar a roupa, enquanto repetia frases para reforçar sua condição de honestidade e seriedade, atributos não reconhecidos pelo funcionário da agência bancária. Guardadas as devidas proporções, todos, indistintamente, em algum momento da vida, estão sujeitos a esse tipo de situação. Mesmo os que confiam em sua impecável e consistente formação moral, os portadores de um autocontrole infalível, os mais convictos de tudo aquilo que praticam ao longo dos anos, é inevitável que algum entrevero acabe levando a atitudes inesperadas. Um bom exemplo disso são os desentendimentos no trânsito, incompreensíveis quando vistos com serenidade e imparcialidade. Ou as divergências por conta de paixões esportivas, notadamente em relação às torcidas pelos times de futebol.
Numa análise simplista, porém realista, podemos ver no homem nu a imagem da indignação. Sentimento que acomete todos os brasileiros, pela vergonha da corrupção, incrustada em boa parcela de nossos políticos. Pelo inconformismo com o caos reinante nos hospitais (em que o ser humano é apenas mais um número a ser registrado), pela insegurança que intimida diuturnamente as famílias de bem, pela qualidade questionável do ensino no País (aqui se inclui as sofríveis condições das escolas públicas e a exígua remuneração dos educadores). Indignação pela incompetência administrativa e política que mergulhou a nação em uma das maiores crises de sua história. Estamos pois, todos nus, na expectativa por dias melhores, que mais cedo ou mais tarde, certamente haverão de surgir no horizonte acinzentado desse incompreensível Brasil. Hoje, indefesos, estamos como o peladão do banco. Amanhã, quem sabe, estaremos adequadamente vestidos para o futuro. Então, convém pensar muito bem antes de tomar uma decisão. Principalmente, com relação àquelas que acontecem a cada quatro anos.