Merencória, inzoneiro e coqueiro

Eu tenho um amigo que pavio curtíssimo e é puto com as lecenças poéticas e expressões criadas e usadas pelos compositores da MPB. Por exemplo: fica apoplético e raivoso quando vai a um local e tocam "Aquarela do Brasil", de Ari Barroso. Pode? É um absurdo.Para mim é uma das músicas mais bonitas do nosso cancioneiro, principalmente na voz aveludada, dengosa e lindíssima de Gal Costa. Acho que é o nosso segundo Hino Nacional (para mim é o primeiro) porque define o patropi, sua poesia, suas peculiaridades, sua gente, suas belezas, é a nossa cara lisa e verdadeira. E na voz de Gasl fica um hino brasileiríssimo.

Mas o amigo discorda. Discorda e implica. Implica e pichaa a música. Primeiro mete o cacete na palavra "inzoneiro",diz que não existe. Mas até Eremildo,o idiota, sabe que quer dizr dengoso, folgado, vivedor e... tá certo, também malandro. A outra implicância é com a expressão, "a meroncória luz da lua". É tão grande a raiva dele que faz todo mundo rir. Ele não admite a licença poética do compositor que quis dizer, quem sabe, a pálida, prateada, melancólica ou poética luz da lua. Mas ele fica mesmo apoplético e até gagueja de raiva com o verso, "coqueiro que dá coco". Uiva raivoso: - E coqueiro dá banana, dá goiaba, dá laranja, dá melancoa, dá uva? Porra, coqueiro só pode dar coco. Que besteira! O cara é xiita paca.

Nunca vai entender alicença poética. Jamais vai entender e sentir a beleza da música e dos versos de Aquarela do Brasil. Quando ouço, na voz aliciante e dengosa de Gal, eu juro, hermanos, que vejo o coqueiro dando coco, o mulato iszoneiro e a merencória luz da lua. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 24/07/2016
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