Festas fervilhantes, paredes espelhadas, música alta, bebidas que embriagam, bacantes em saltos altíssimos, de biquínis ou roupas coladas, gringos misturados a brasileiros, tudo coexistindo numa democrática confraternização dionisíaca. No Rio de Janeiro, a representação do bordel ancestral materializa-se nas termas e nos parentes eufemísticos que se apresentam como boates e clubes. Da mesma forma, flores devassas podem brotar em ruas malfaladas ou nas pequenas salas de prédios suspeitos, onde cafetões menos ambiciosos gerenciam privês baratos. Suspeita-se que alguns desses templos de lascívia entraram em extinção, o certo é que todos eram oásis libertinos, solo em que se proliferam os corações extraviados, vagando entre o mar e a aridez da cidade, alimentando-se da mais incompreendida e compartilhada miséria do universo: a solidão.
“Só entende a prostituição quem se prostitui”, me confessa uma garota de programa. Apesar disso, não falta quem estude a prostituição com luva, pinça, microscópio e bloquinho de notas; assim como transbordam por aí, em igual proporção, os que escrevem e filosofam sobre a suposta profissão mais antiga da Terra. Talvez, realmente, não sejamos capazes de compreender a intimidade emocional de uma meretriz frequentando apenas os limites do seu quarto, mas é pela janela aberta que observamos a imagem indiscreta daquela que ampara e desmascara as ruínas desprezíveis do gênero masculino. Sim, a opção mundana é decadente e envolve alto risco, no entanto, é ela que desnuda a grandeza desproporcional da mulher. Messalina não foi criada de uma costela, surgiu da difamação de um homem assustado com sua força e ambição.
Prostitutas não são santas, não seria possível defender tal tese, mesmo Maria Madalena só foi santificada depois que Jesus afastou dela os 7 demônios. Prostitutas são fêmeas pragmáticas, revelando a inata natureza material e maternal que perdoa e abraça o pecador. Assumem um papel social temeroso, que pacifica a carência e redime as mentiras românticas de machos obcecados por um objeto de luxúria que também lhes console a vaidade abatida. Não são santas porque cobram pela ilusão e reinam na fronteira dos inferninhos.
“Não existe só prostituição feminina”, poderiam afirmar. Correto. Porém, a prostituição masculina atende a motivações ordinárias, de caráter estritamente libidinoso. Já a cortesã possui uma complexidade visceral que a identifica, é personagem que precisa simular o amor e o erotismo num mundo erguido sobre concreto, asfalto e frustrações. Para todos os homens que só conhecem o claustro da vida, a prostituta é a sacerdotisa que liberta.
“Enaltecer a degradação, inventar qualidades em quem se deprecia, onde se viu isso?... Que virtude há em alugar o corpo?” – retrucaria o puritano indignado.
Todas as virtudes habitam o ato heroico de sobreviver.
Infelizmente, estamos num século dominado pelo consumo, pela ostentação, pela tecnologia das gélidas relações virtuais. Agora, até as mulheres da vida preferem interagir através da Internet, protegidas pela tela fria do monitor Full HD, tornam-se presenças holográficas, cada vez mais caras e inacessíveis. O convívio popular, dos pileques e das falsas alegrias dos cabarés, será recordação num retrato velho que guardou os traços de sorrisos inebriados em nostálgicas celebrações. No futuro, não nos surpreenderemos se uma zona qualquer do baixo meretrício for tombada como museu a céu aberto, patrimônio inconteste da humanidade.
“Só entende a prostituição quem se prostitui”, me confessa uma garota de programa. Apesar disso, não falta quem estude a prostituição com luva, pinça, microscópio e bloquinho de notas; assim como transbordam por aí, em igual proporção, os que escrevem e filosofam sobre a suposta profissão mais antiga da Terra. Talvez, realmente, não sejamos capazes de compreender a intimidade emocional de uma meretriz frequentando apenas os limites do seu quarto, mas é pela janela aberta que observamos a imagem indiscreta daquela que ampara e desmascara as ruínas desprezíveis do gênero masculino. Sim, a opção mundana é decadente e envolve alto risco, no entanto, é ela que desnuda a grandeza desproporcional da mulher. Messalina não foi criada de uma costela, surgiu da difamação de um homem assustado com sua força e ambição.
Prostitutas não são santas, não seria possível defender tal tese, mesmo Maria Madalena só foi santificada depois que Jesus afastou dela os 7 demônios. Prostitutas são fêmeas pragmáticas, revelando a inata natureza material e maternal que perdoa e abraça o pecador. Assumem um papel social temeroso, que pacifica a carência e redime as mentiras românticas de machos obcecados por um objeto de luxúria que também lhes console a vaidade abatida. Não são santas porque cobram pela ilusão e reinam na fronteira dos inferninhos.
“Não existe só prostituição feminina”, poderiam afirmar. Correto. Porém, a prostituição masculina atende a motivações ordinárias, de caráter estritamente libidinoso. Já a cortesã possui uma complexidade visceral que a identifica, é personagem que precisa simular o amor e o erotismo num mundo erguido sobre concreto, asfalto e frustrações. Para todos os homens que só conhecem o claustro da vida, a prostituta é a sacerdotisa que liberta.
“Enaltecer a degradação, inventar qualidades em quem se deprecia, onde se viu isso?... Que virtude há em alugar o corpo?” – retrucaria o puritano indignado.
Todas as virtudes habitam o ato heroico de sobreviver.
Infelizmente, estamos num século dominado pelo consumo, pela ostentação, pela tecnologia das gélidas relações virtuais. Agora, até as mulheres da vida preferem interagir através da Internet, protegidas pela tela fria do monitor Full HD, tornam-se presenças holográficas, cada vez mais caras e inacessíveis. O convívio popular, dos pileques e das falsas alegrias dos cabarés, será recordação num retrato velho que guardou os traços de sorrisos inebriados em nostálgicas celebrações. No futuro, não nos surpreenderemos se uma zona qualquer do baixo meretrício for tombada como museu a céu aberto, patrimônio inconteste da humanidade.