Há um ano atrás estava fazendo uma arrumação na minha casa quando minha sobrinha e afilhada disparou: Nossa tio, o senhor é muito consumista. Para que tanta coisa se o senhor nem usa?
              Sou uma pessoa normalmente despachada e não costumo deixar nada sem resposta, mas nesse dia fiquei calado. Não consegui dizer nem uma palavra para me defender. Apenas olhei para tudo que estava na minha frente e percebi que coisas compradas há meses atrás como necessidade ainda tinham a etiqueta da loja. Me fiz a seguinte pergunta: Por que tinha comprado aquilo?
          Uma nostalgia apoderou-se de mim pois alguns objetos eram lembranças das minhas viagens, então guardei tudo de volta e voltei a minha vida normal. Dois meses depois a biografia de Chico Xavier caiu nas minhas mãos, presente de um amigo, e dois momentos do livro me chamaram atenção: Em um momento ele diz que devemos ter somente o que realmente usamos. No outro ele aconselha que não devemos vender nada. O que não serve para nós pode fazer muita gente feliz.
             Depois dessa indireta do plano espiritual, cheguei a conclusão que era hora de mudar completamente a minha vida. Ser mais simples, mais feliz. Fazendo um inventário, percebi que tinha um longo caminho a percorrer. Decidi deixar na minha vida apenas o que realmente usava e importava. Resolvi fazer uma limpeza geral. E olha que dessa vez sem sentimento de nostalgia.
               Por exemplo: Por que precisava de 30 copos de cerveja, se nem recebia tanta gente assim? Escolhi apenas 12 e os outros foram para doação. E continuei de vento em popa. Copos de whisk, taças de vinho, champagne, licor, enfim, muitas coisas. Quanto aos meus livros, cds e dvds me fiz a seguinte pergunta: Esse livro, essa série, esse filme, eu tenho vontade de reler e rever muitas vezes? Se a resposta era sim, eu ficava, se era não, doava. No final, fiquei impressionado com o tanto de coisas que doei, com o espaçõ que ganhei na minha casa e muito feliz com a alegria das pessoas que receberam as minhas doações.
         Após as doações fiz também mudanças internas. Aprendi a valorizar o simples e só faço o que me faz bem sem me preocupar com moda ou o que vão pensar a meu respeito. Aliás não se importar com o que vão falar a meu respeito foi uma das grandes vantagens que a maturidade me presenteou.
          Minha vida hoje é ótima. Trabalho perto de casa(mesmo ganhando menos), vou a minha livraria preferida sozinho e passo horas dentro dela, restaurantes só o que eu quero e com poucos amigos, viajo menos mas apenas a lugares que realmente quero ir e festas só as que realmente valem a pena. Continuo gostando de sexo e aberto ao amor, mas estou mais seletivo. Hoje reconheço um momento feliz quando ele está acontecendo, não depois.
         No meio de tantas mudanças, muitas coisas boas aconteceram. Descobri que tenho poucos amigos, mas antigos, fiéis, que gostam de mim e o principal: Posso sempre contar com eles e lógico que eles podem contar comigo anytime. Meu novo eu se dá a todos os direitos e não desperdiça mais o tempo com besteiras.
         Agora aqui vai uma pequena confissão: Confesso que ainda existem momentos, embora raros, que gostaria de estar mal acompanhado do que só. Ok, mudei muito, mas continuo humano.
            Se tenho medo de morrer sozinho? Não. Nós morremos na hora certa, nem um minuto a menos, nem um minuto a mais, então não interessa se estamos sozinhos ou no meio de uma multidão.
José Raimundo Marques
Enviado por José Raimundo Marques em 18/07/2016
Reeditado em 18/07/2016
Código do texto: T5701797
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