SENTIR NA PELE
No apartamento, o tempo engana, a temperatura brinca conosco.
Pela janela, vê-se o sol forte, dia claro. Guardados de intempéries, acreditamos no que estávamos vendo, porém a pele não sentia a realidade. Tudo é preciso que a pele sinta, se assim não o for, não avaliamos verdadeiramente as coisas que nos rodeiam.
Ah, belo sol em manhã de domingo! O pão caseiro de Dona Carmen é tão saboroso, tem o jeitão e o gostinho do pão da mãe. A barraca dos pães espera-nos todos os domingos no calçadão da Avenida Paraná. Aproveitamos a viagem, compramos outras guloseimas que nos lembram das delícias natalinas de minha mãe e, de quebra, levamos Nina, nossa companheira canina para um passeio e alguns namoros feitos de cheiros e olhadelas desconfiadas.
Vestimos um agasalho leve, sem grandes compromissos hibernais e saímos com ares de feliz domingo. No primeiro passo fora do portão, um susto! Os pés sem meias reclamaram e o pescoço, sem cachecol, quase me enforca.
Teimosos, seguimos nosso passeio, jamais convenceríamos Nina a voltar da pequena aventura.
Compramos o pão, com tanta pressa, porque nos sentíamos em um freezer. Quem abriu a geladeira do mundo, a minha mente me perguntava. Comprei uma boina de tricô, um par de meias e agasalho pra Nina, que, elegantemente, namorou às pressas. Luiz, mais esperto, cuidou melhor da própria vestimenta. Não sei que sensor têm os homens, que não os deixam sentir frio como sentimos nós, as mulheres. Deve ser algum botãozinho que ainda não descobri nele. Suas mãos sempre são quentes e ele não pode ser meu termômetro, porque nossas sensações em relação à temperatura frequentemente são diferentes.
Voltamos com mais calor na pele e também na alma. Agora sabemos (verdadeiramente) quanto dói o frio e que o que sobra no armário deve ter outro destino. Junto com os pães que deverão ir para outras mãos e aquecerem estômagos, peles e almas.
Dalva Molina Mansano
17.07.2016
11:59