Por um escritor ...
O trabalho (tripalliare) no sentido filosófico remete à labuta – uma forma dura de exercer uma função. Seria como uma tortura o ato de trabalhar. Alguns trabalham com extrema felicidade. Outros simplesmente porque necessitam. Já outros tem prazer no que fazem enquanto muitos resistem, fazendo por obrigação para não serem engolidos pelos desígnos da vida.
Existem engenheiros que amam a profissão, além de serem muito bem remunerados. Existem professores que se dedicam com todo o coração - uns são bem pagos e outros não. Há também aqueles que se formam, mas precisam se dedicar a outras funções por questões financeiras. O ideal mesmo seria trabalhar fazendo o que gera satisfação e excelente remuneração e são realmente poucos os que conseguem esse feito. Um escritor, por exemplo, “tem que cortar um doce” se quiser viver da escrita. Digo viver, mas na realidade ele tenta sobreviver.
O sonho de um escritor é sem dúvida viver escrevendo ganhando a vida dessa maneira, sem se preocupar com o futuro. Basta todas as manhãs acordar e deixar a inspiração ganhá-lo e expressar no papel tudo o que se pode para comunicar, exortar, divertir, consolar, auxiliar, distrair, despertar, alegrar, ensinar, animar, inspirar e tocar o leitor. Talvez com lindas poesias, curiosos contos, belos romances, divertidas crônicas, fortes trovas, brilhantes indrisos, fabulosas fábulas, reflexivos artigos ou contemplativos sonetos. Tudo para alguém que pode se beneficiar com o dom daquele que está sempre disposto a colaborar.
Em um país onde se deseduca e a leitura perde espaço para as redes sociais, o sonho de viver da escrita para milhares de pessoas é por vezes como ter uma flecha no calcanhar. O que seria de Voltaire, Julio Verne ou Miguel de Cervantes, caso fossem nascidos na metade do século XX? Será que teriam o mesmo sucesso, visto que a tecnologia substitui por muitas vezes o bom e velho livro de papel?
Muitos escritores de hoje preferem ser lidos a ganhar dinheiro. Seria esse o exemplo do verdadeiro amor à escrita. Mas por que então não viver escrevendo? Quando isso poderá ocorrer?