Ele não era grande coisa...

Ele não era grande coisa. Suas tentativas desajeitadas de aproximação, seus insistentes cortejos e seus freqüentes assédios, me cansavam.

Eu, na verdade, não estou nem aí para estas coisas. Prefiro ficar preguiçosamente deitada por entre cobertas e travesseiros, deixar o sol banhar minha pele e meus pelos, comer, beber, dormir. De vez em quando, curto novidades, pesquisar novos cantos e recantos, olhar a mata, o jardim, sua vida e seus insetos, espreitar as aves gorjeando nas ramagens. Sinto o mundo dentro de mim, pertenço a tudo e a todos e este negócio de acasalamento me limita e me cerceia. A vida é bela, bela demais para a estreiteza do pertencer e do ser pertencido.

Por outro lado, se é verdade que ele não valia grande coisa, também é verdade que, na minha vida, jamais tive quem valesse mais. Se não era muito o que se passava entre nós, já era muito, o pouco que se passava. Não era grande a comunicação, mas bastava uma troca de olhares, a cumplicidade dos subentendidos, o decifrar conjunto do código de cheiros e ruídos que permeia uma casa, para preencher o vazio. Bastava o ficar junto, lado a lado, para espantar a solidão.

Quando ele ainda estava aí eu não reconhecia o seu valor. Agora que ele falta, sinto a sua falta. É assim a vida. É de buracos que é feita a peneira.