Experiência desagradável no trabalho
Aos dezoito anos, no início da década de 1970, fui trabalhar num Banco particular, subsidiário do conglomerado americano The First National City Bank. Era um Banco elitista, com poucas agências, e eu fui designada para o Caixa.
A clientela era selecionada, naquela época não se era obrigado a ter conta em Banco, a maioria dos empregados recebia seu dinheirinho no final do mês dentro de envelopes, era só pagar as despesas do mês anterior, ficar com um troquinho para a condução – não havia ainda o vale-transporte – e uma ou outra comprinha, se sobrasse algum. Simples assim: sem os atuais cartões de crédito, ou mesmo o crediário superfacilitado pelas lojas, se tivesse dinheiro comprava, se não tivesse, não comprava. Ah, também ainda não havia sido inventado o cheque pré-datado.
Como eu dizia, a clientela era selecionada, gente com muito dinheiro mas que, não raro, deixava “estourar” a conta.
Lembro-me de um episódio que aconteceu comigo, nova no emprego, ainda não conhecia os “jeitinhos” para não melindrar os clientes, pois, afinal, cliente tem sempre razão e, além disso, a corda arrebenta é do lado mais fraco. Esse episódio me fez voltar para casa chorando, pensando em pedir demissão no dia seguinte, nem voltar mais à agência.
Mas voltei, precisava do emprego. Foi um caso em que a madame me apresentou um cheque para sacar. Eu conferi a assinatura, tudo bem, quando fui verificar o saldo: insuficiente. Voltei ao balcão e perguntei-lhe se era a titular da conta, que estava acontecendo esse problema. A perua só faltou pular o balcão e me esganar: começou a gritar, perguntando se eu sabia quem ela era, que o marido dela era diretor vice-presidente da Anderson Clayton – essa empresa eu conhecia , era a que fazia a margarina que passávamos no pão de manhã – que queria falar com o gerente, etc.
Uma das colegas mais antigas veio me socorrer e, já conhecendo a “respeitável” senhora, encaminhou-a ao gerente da agência, que, ato contínuo, autorizou o pagamento do cheque sem fundos da ricaça.
Depois disso, nunca mais nem olhei o saldo, já pagava logo, nem olhava se tinha assinatura. Qualquer coisa, o gerente se responsabilizava.
Aos poucos fui descobrindo que esse negócio de pagar tudo direitinho era coisa de pobre. Os ricos podiam comprar os gerentes de Bancos para darem os seus jeitinhos.