CHOVER NO MOLHADO...

Novidade para quem chega ao Rio de Janeiro pela primeira vez. “Quero ver o CRISTO...” Não. ELE ou ELA quer admirar uma boa parte da cidade em visão de cima. Símbolo da ex-capital federal, eternizado cartão postal, desenho em camisetas e nos mais variados objetos. Eleito pela UNESCO uma das 7 modernas maravilhas do mundo. Em 2006, transformado em santuário católico do Brasil. Encantou JOBIM que cantou em Samba do Avião: “...braços abertos sobre a (baía de) Guanabara”... (Sabe-se que o carioca é piadista, e o projeto do CRISTO segurando uma cruz com a mão esquerda e o globo terrestre com a outra, logo faliu... neste comecinho de um esporte ainda chamado de ‘football’.)

Descobri duas curiosidades. 1 – A “ideia” mesmo remonta a um padre francês que chegou ao Rio em 1854, deslumbrou-se com a paisagem e sugeriu cravarem um símbolo religioso no alto de um morro. A semente da “ideia” (demorou, hein?) teve o entusiasmo da primeira Isabel três meses após a libertação dos escravos, mas no ano seguinte – 1989 – a República acabou com todos os sonhos imperiais. 2 – Eram três opções de lugares altos, porém um abaixo-assinado de mais de 20.000 mulheres foi encaminhado ao então presidente do país, escolhido o morro do Corcovado no bairro do Cosme Velho.

“Cristo, uma estátua? Uma presença, do alto (...) bem mais perto da humana contingência, (...) é lei carioca (ou destino carioca, tanto faz) misturar tristeza, amor e som, trabalho, piada, loteria na mesma concha do momento (.........)” - poema Retrato de uma Cidade, CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE.

Inauguração em outubro de 1931, na presença de outro presidente da República e ministros. A 710 metros acima do mar, lá no topo... Boato de que o Brasil “ganhou de presente.........” – nada disso: campanha mobilizou paróquias de todo o país, fundos obtidos através de donativos públicos, e consta que até índios bororós fizeram doações em dinheiro. Projeto de 10 anos antes, foram cinco anos de obras. Grandiosa equipe de trabalho. Autor do projeto vencedor de um concurso em 1923 foi o arquiteto HEITOR DA SILVA COSTA e também construtor junto com HEITOR LEVY, seu encarregado de obras, e o engenheiro PEDRO FERNANDES VIANNA. Desenhos do artista CARLOS OSWALD foram levados para a França, maquete da cabeça e mãos por conta do escultor francês de origem polonesa PAUL LANDOWSKI, lá o molde foi esculpido em gesso, depois no Brasil formas gerais da estátua revestidas em pedra-sabão, material bastante resistente ao tempo, montada no Rio pedaço por pedaço. Numa tecnologia ainda ‘pobre’, pelos conceitos de hoje, a estátua foi acesa à distância, da Itália, em ondas sonoras, às 19h15min, por GUGLIELMO MARCONI, o inventor do telégrafo sem fio. Deu certo: afinal, JESUS CRISTO SUPER STAR unira diferentes povos quase dois milênios antes. O monumento foi tombado pelo IPHAN em 1937 e tem tido regulares obras de recuperação, incluindo em 2003 um sistema de escadas rolantes e elevadores para facilitar o acesso à plataforma onde fica a estátua.

A subida dura cerca de 20 minutos (atual capacidade dos trens para 140 passageiros) feita pela estrada de ferro que Dom Pedro II inaugurara em 1884 – 3.800 metros, a primeira a ser eletrificada no Brasil em 1906 (a estrada de rodagem é de 1824). A princípio, era só a trilha e um mirante no topo da montanha, mandado construir por Dom Pedro I (ah, e também pequena casa de “repouso” para o imperador... e por certo uma acompanhante também cansada.) Muito mais tarde, um novo mirante agora com estrutura toda em ferro e com cobertura chamada Chapéu do Sol, área onde foi construído o gigantesco monumento.

Visita presumível de 1,6 milhão de pessoas por ano.

Ganhei fotos de um passeio familiar, maio de 1931, todo mundo querendo espiar, fiscalizar com bisbilhotices o andamento do trabalho... Talvez EU fizesse a mesma coisa, no mínimo ser um turista pioneiro. Quem sabe construção pioneira no ‘meu’ planeta Marte?

F I M