TABULEIRO DE BOTÕES

(ao meu amigo poeta, jornalista e professor Edson de França)

Durante trinta anos, guardei comigo aquele embrulho: um pedaço da minha infância que devia passar adiante. Esperava, na lonjura das horas, o dia tão sonhado. Mas, não vinha o prometido. A cada toque, uma flor (...). E, mesmo desesperançoso, o conteúdo continuava aquietado, contendo-se em si mesmo. (...).

E eu fui, enquanto isso, passo a passo, seguindo a minha vida. Meio coxo, triste, inseguro... - A vida é metaforicamente um jogo de escolhas... Os movimentos é que determinam o nível de dificuldade. Mas, em todas as jogadas há sofrimento e dor... Para no fim acontecer a inevitável derrota.

Enfim, o prometido. E ele veio, sem alarde. Agora, o filho varão parecia estar pronto. Por meio dos exemplos paternos, a certeza de que eu continuarei existindo. (...). Estava na hora de desatar aquele saco para deixar que as lembranças da infância pudessem se libertar, ignorando as dimensões. (...). E, sobre o tablado: os botões em acrílico, as traves com filó, a bola no centro do mundo... - A iniciação começava.

Dali em diante, pai e filho seguiriam suas vidas, separados; porém, eternamente, uno.

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Durante trinta anos, guardei comigo aquele embrulho: um pedaço da minha infância que, cedo ou tarde, deveria passar adiante. Na solidão das horas, esperei o tão sonhado momento. Mas o prometido nunca vinha. A cada toque, uma flor. Ainda assim, mesmo envolto em desesperança, o conteúdo permanecia silencioso, contido em si, como se soubesse que sua hora chegaria.

Enquanto isso, eu seguia a vida, passo a passo, meio coxo, triste, inseguro... A vida, esse eterno jogo, onde cada escolha define o nível de dificuldade. Mas, em qualquer movimento, há sofrimento e dor. No fim, o desfecho é sempre o mesmo: a inevitável derrota.

Então, enfim, o prometido. Ele veio sem estardalhaço. Agora, o filho estava pronto. Por meio dos exemplos paternos, veio a certeza de que eu, de alguma forma, continuaria a existir. Era o momento de desatar o nó daquele embrulho, deixando que as lembranças da infância finalmente se libertassem, ignorando o espaço e o tempo.

E sobre o tablado: os botões de acrílico, as traves de filó, a bola no centro do mundo... A iniciação começava. Dali em diante, pai e filho seguiriam suas vidas, separados por caminhos, mas unidos para sempre, como um só.

Misael Nobrega
Enviado por Misael Nobrega em 14/07/2016
Reeditado em 20/10/2024
Código do texto: T5697104
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