TABULEIRO DE BOTÕES
(ao meu amigo poeta, jornalista e professor Edson de França)
Durante trinta anos, guardei comigo aquele embrulho: um pedaço da infância que precisava passar adiante. Esperava, na lonjura das horas, o dia tão sonhado. Mas, não vinha o prometido. A cada toque, uma flor (...). E o conteúdo do pacote, embora sem esperança, não fugia a sua obrigação. O que havia ali dentro, continha-se em si mesmo. (...). Enfim, o prometido. E ele veio, sem alarde. Agora, o filho varão parecia estar pronto. Por meio dos ensinamentos paternos, a certeza de que eu continuarei existindo. (...). Estava na hora de desatar aquele saco para deixar que as lembranças da infância pudessem se libertar, ignorando as dimensões. (...). E, sobre o tablado: os botões em acrílico, as traves com filó, a bola no centro do mundo... - A iniciação começava. Dali em diante, pai e filho seguiriam suas vidas, separados; porém, eternamente, uno.