A danada da maçã



     1. A maçã nunca me seduziu. Na falta, e somente na falta de outra fruta, você, meu dileto leitor, poderá encontrá-la no meu carrinho de compras.  
      2. Perdão: chamei a maçã de fruta, mas fruta ela não é! Para a ciência, a maçã é um "pseudofruto"; ou um "falso fruto".  Mas, no momento, não interessa explicar o porquê dessa surpreendente classificação.
      3. Sabe-se, entretanto, que a danada da maçã tem enorme importância nutritiva e elogiáveis propriedades medicinais. A pectina encontrada na sua casca, ensinam os pesquisadores, mantém a taxa de colesterol em nivel razoável, e ainda prolonga a vida útil do coração.
       4. 
Mas resolvi falar sobre a maçã porque - li nas gazetas - essa  frutinha, "pseudofruta" ou "fruta falsa" também tem o generoso poder de "retardar o envelhecimento".
       5. Descobriu-se que os polifenones e flavanóides nela existerntes "preservam as células". Portanto, ÀS MAÇÃS, o pessoal preste a ingressar na envelhecência...

          Coincidência ou não, me disse o gerente do supermercado que frequento que sua loja, com um elevado número de clientes passando dos 50, nunca vendeu tanta maçã.
       Se eu soubesse que era assim, muito cedo teria aderido à maçã; retardando, em alguns anos, a chegada do meu crepúsculo... 
        6. Uma divertida e controvertida coletânea de histórias envolvendo a maçã circula por aí. E desde a antiguidade. Na Mitologia. A maçã  ajudou a detornar a famosa Guerra de Tróia!
        7. Vou resumir. Para o casamento de Peleu e Tétis, a deusa da discórdia, Éris, não recebeu convite. Mesmo sem ser convidada, ela compareceu ao casório. E apareceu na festa carregando nas mãos uma maçã, com esta inscrição: "À mais bela!"
        8. Minerva, Juno e Vênus presentes às bodas, cada uma se achando a mais charmosa, passaram a disputar a posse da maçã de Éris. Não chegaram, porém, a um consenso.
        9. 
Criado o problema, as três deusas procuraram Júpiter, o chefão, e lhe pediram uma opinião. Júpiter preferiu ficar em cima do muro: mandou que as deusas brigonas procurassem Páris.
             10. Páris resolveu o impasse, entregando a maçã a Vênus.  Para mostrar sua gratidão, Vênus ofereceu-lhe a mão de Helena, esposa de Menelau, a mulher mais bonita de Esparta. Páris raptou Helena, e a levou para Tróia. 
             11. Menelau não se conformou com a traição: partiu  em busca de Helena. Travou-se, então, a Guerra de Tróia.
             12. Dizem os historiadores, que lutando para ficar com Helena, Páris morreu no campo de batalha.  E que sua morte trágica lhe reservara o destino traçado por Minerva e Juno, num ato de vingança. 
              13.
 Na Física - A maçã é encontrada ajudando Isac Newton a descobrir a gravidade.
            14. Naquele conhecido episódio bíblico, e de acentuado conteúdo romântico, a maçã aparece roubando a tranqüilidade dos nossos primeiros pais.  Ao lado de uma serpente, ela teria contribuído para acabar com a boa-vida que Eva  e Adão levavam nas alamedas perfumadas do Paraíso Terrestre. 
           15. A história da mação, contada no Velho Testamento, vem sendo repetida, através dos séculos. E assim será, a menos que Bento 16, o papa teólogo, resolva oferecer ao seu rebanho uma versão, eu diria, menos profana...
           16. 
No seu reconhecido pastoreio conservador, Sua Santidade tem assustado o mundo com pronunciamentos e posições surpreendentes. De repente, falando Urbi et Orbi, ou seja, para o mundo e para a cidade de Roma, o papa Ratzinger, do alto do seu púlpito, resolve condenar a trama envolvento Adão, Eva, uma "serpente" e uma "maçã".                      17. Guardo e cultivo com carinho as coisas que aprendi na infância. Por isso, não questiono a participação da maçã na tragédia que desabou sobre o Jardim do Éden, fazendo-o desmoronar... 
          18. Essa  foi  a história que me foi contada por minha ingênua catequista, quando, em junho de 1941, eu me preparava para fazer a Primeira Comunhão. Por que, a esta altura de minha vida, trocá-la por uma historinha moderna?
          19. Deixem-me continuar pensando, pois, que, em algum momento, na Terra, existiu um lugar onde se viveu feliz... Onde até se andava nu, e, desnudos, se brincava à beira de regatos sem poluição, e se sonhava à sombra de frondosas macieiras.
          20. Ainda que, como lembrança desse tempo paradisíaco seja obrigado a carregar comigo, como estigma permanente, o pomo-de-adão a enfear-me o gogó...

 

     

 

     

 

Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 18/07/2007
Reeditado em 17/10/2019
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