Manhã de uma luz magnífica no Rio, com um Sol de inverno que é convite à contemplação. Caminho pela rua Conde de Bonfim, na Tijuca. Olho vitrines, entro em lojas e faço uma paradinha para exercitar a secreta vulgaridade de saborear um pastel de queijo com caldo de cana. Sinto aquela invasão de alegria pela vida, a euforia inexplicável e sem motivo que só é boa porque nos surpreende nos momentos mais simples. Volto a caminhar... Próximo à saída do metrô, vejo uma criança sentada no chão, não devia ultrapassar os dez anos de idade, ele ajeitava umas balinhas dentro de uma caixa improvisada. Negro, com roupinha surrada, preparava-se para o trabalho nas ruas. Trabalho? Não. Aquilo demonstrava a condição humilhante de um menino alijado das oportunidades, da escola, da formação, do futuro. Ando mais um pouco, cruzo a entrada da Igreja Sagrado Coração, me deparo com dois senhores de aparência cansada deitados nas escadas, um deles parecia absorto, com um rosto de absoluta desolação.
Sinceramente, tenho horror por demagogia, mas foi ali que o Sol, o céu, o universo, tudo soou como um deboche. O prazer que senti minutos antes se transformou em vergonha, em culpa. No fundo, eu sabia que a natureza egoísta me faria seguir em frente. Talvez, eu até esquecesse que não passo de um oásis egocêntrico no meio de um deserto de misérias. Decidi escrever para lembrar que a indiferença de cada passo adiante mede a distância entre os meus olhos e o abandono definitivo de qualquer humanidade.
Sinceramente, tenho horror por demagogia, mas foi ali que o Sol, o céu, o universo, tudo soou como um deboche. O prazer que senti minutos antes se transformou em vergonha, em culpa. No fundo, eu sabia que a natureza egoísta me faria seguir em frente. Talvez, eu até esquecesse que não passo de um oásis egocêntrico no meio de um deserto de misérias. Decidi escrever para lembrar que a indiferença de cada passo adiante mede a distância entre os meus olhos e o abandono definitivo de qualquer humanidade.