SILÊNCIO
Os mais antigos devem estar lembrados de que, penduradas nas paredes dos hospitais havia a fotografia de uma enfermeira (fardada tipo Ana Nery) com o indicador em riste frente aos lábios, pedindo silêncio, como indicativo de que o barulho era prejudicial aos tratamentos que ali se realizavam.
Eram prejudiciais, não são mais. Pelo menos para o hospital no qual, do dia 12 a 23 do mês passado, eu estive internado depois do mega infarto que tive.
Nos dias da UTI além dos sons constantes dos aparelhos de monitoramento havia o som das vozes altas em conversas, nas informações passadas nas trocas de plantão, dos gemidos, dos sons ininteligíveis e falas dos internos, batidas de macas nas camas e nas paredes em manobras desastradas, som das grades das camas sendo abaixadas ou levantadas além de quedas eventuais das pinças, tesouras e cubas...
Por falar em cubas, alguém saberia dizer o porquê do formato da cuba rim?
Nos corredores, a qualquer hora do dia ou da noite, o ir e vir dos pacientes, dos profissionais da área, de visitantes e acompanhantes com aqueles sapatos que, de longe, denunciam a aproximação do usuário com o potoque, potoque, potoque semelhante ao som produzido pelas ferraduras dos cavalos quando andam em ruas calçadas, conversas ou chamamentos em vozes altas e, nos quartos, os aparelhos de televisão invariavelmente ligados e as luzes permanentemente acesas.
Claro que não se pode exigir o silêncio total nem meia luz para a execução de procedimentos, mas acredito que o bom senso deve prevalecer, principalmente quando se trata de hospital.
A exemplo das criações extensivas para a produção de ovos de galinhas ou codornas, de leite, frangos e porcos que são afetadas pela presença de desconhecidos, sons estranhos, movimentos bruscos ou forte variação térmica, a recuperação de pessoas deve ter a tranquilidade como padrão, afinal nós não somos muito diferentes desses outros animais.