Abraços e Beijos...

Oh, preciosidades formosas que Deus ofertou presentes celestes concebidas na união do amor verdadeiro de um coração.

Quem dera ainda fossem crianças inocentes, pequenas, valentes sem temor...

A tudo ultrapassei, suportei, afinco trabalhei, nunca os abandonei.

Um dia um amor encontrei, namorei, noivei, casei.

Foi amor puro, lindo, real. Da união nasceram os filhos, jóias emprestadas pelo Poder Criador.

Presente primordial, seqüência de nossa existência, marca registrada na essência de um jovem casal.

Do amor puro, lindo, real, restaram lembranças, luta árdua.

Foram anos felizes, repletos de carinho, respeito, atenção.

Ao lado de um fogão de lenha, em união, ouvíamos estórias e canções ao som de um violão.

Quis o destino separar este casal, um acidente fatal levou o companheiro de forma letal.

Sozinha fiquei com a responsabilidade ainda maior. Cuidar dos cinco filhos pequenos, frutos deste lindo amor.

Muito ultrapassei, solução procurei. Trabalhava noite e dia para o sustento do lar, das crianças precisava cuidar, não podia deixar nada faltar.

Alimentos, roupas simples, era tudo que adquiria. Apesar da luta ser continua e sofrida, nada reclamava. Afinal as crianças eram responsabilidade minha.

Por diversas vezes escutei de pessoas conhecidas frases que marcaram minha vida: coloque os meninos no orfanato, vá viver sua vida, será melhor.

Como poderia ser melhor criar os filhos sem a mãe. Não, eu não daria ouvido àquelas pessoas, amava meus meninos, por eles andaria o mundo.

A batalha foi difícil, os filhos foram crescendo, as dificuldades persistiam, multiplicavam a cada dia, as despesas aumentavam. Mesmo assim todos sorriam, a nosso jeito éramos felizes.

Entre nós a união, o amor e o respeito era presença constante. Isto valia toda luta e dificuldade pelo caminho da vida.

Após anos de lavor todos feitos com muito amor, suor, dedicação, realizava o sonho que era meu e de meu companheiro, pai dos meus filhos.

Todos se tornaram doutores. Cada qual seguiu seu caminho, seu destino.

Missão cumprida, realizada, dei rumo as minhas preciosidades que um dia Deus ofertou. Foram jóias lapidadas e hoje percorrendo o mundo estão.

O destino traiçoeiro outra vez se apresentou de modo marcante e cruel.

Das doces lembranças carinhosas de meus meninos, restaram à solidão.

Hoje sei de cada um dos meus filhos através de amigos, conhecidos.

Uns casaram, tem filhos. Não conheço meus netos, não tive a oportunidade, ainda espero.

Vivem longe, talvez tenham até receio desta mulher que envelheceu apesar da pouca idade.

Hoje do trabalho restou o trabalho que dou, estou enferma, minhas mãos tremem, derrubam quase tudo que segura.

Sinto falta do trabalho árduo, das noites mal dormidas. Minhas mãos estão calejadas, quase não mexem mais.

Sinto falta dos meus meninos, das minhas crianças inocentes, que transparentes conheciam o valor do amor. Que não sabiam das coisas do mundo, da falsa fortuna terrena, da cobiça do homem, da descrença que destrói família.

Tenho saudade daqueles tempos, onde mesmo cansada, suada, recebia abraços e beijos dos meus meninos que com todo respeito, amor, carinho, pediam a benção.

Hoje estão distante, até tento entender. A vida na sociedade requer mudanças, viagens, passeios.

Por outro lado, já estou velha, doente. Suas esposas, moças requintadas não me querem por perto. Já não tenho muito a oferecer.

Hoje dou trabalho, preciso de alguém sempre por perto.

Vivo num asilo, reparto o quarto com outra senhora. Juntos dividimos:

Esperança... Solidão... Vazio.

Meus filhos estão distantes, não tem tempo, não podem me ver. Eles têm tantos compromissos, afinal são doutores, tem o mundo a sua volta.

Meu ser estremece ao toque da campainha, os olhos ficam paralisados no portão da entrada.

A tristeza toma conta do coração: Visitas... Nada.

De vez em quando no dia das mães chega um presente. Caixa toda enfeitada com um cartão:

“Feliz Dia das Mães... Mamãe“.

Mamãe, palavra mais doce, universal, presente de Deus.

O coração bate forte, dentro uma camisola linda, chinelo bordado, macio.

Agradeço a lembrança, o corpo soluça pela saudade, ainda têm esperança pelo reencontro, rever meus meninos, conhecer os netos.

Mesmo triste agradeço meus filhos, afinal ainda se lembram de mim, mandaram um presente.

Só a alma grita em desalento, não se conforma.

“Que camisola que nada, que chinelo bordado. Se apenas quero dos meus filhos um beijo e um abraço”.

Arísia Bertolo Garcia

18/07/07

Arisia Bertolo
Enviado por Arisia Bertolo em 18/07/2007
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