Caçadores de borboletas* (19/02/2021)

Às tardes, em cada primavera, meninos escanelados, reuniam-se para caçar borboletas que surgiam de toda parte, colorindo a rua-mundo. As pegadas na terra batida imprimiam as nossas digitais. Não havia muita perspectiva para quem nascesse ali. A miudez da vida era o ato de todas as cenas e o único futuro... - Permanecermos meninos.

As mais lindas borboletas costumavam aportar nos jardins do seminário. E transpor aquele muro era, literalmente, um ritual de passagem. E lá íamos nós sem saber o que é pecado. As pobrezinhas, com seus voos desengonçados, facilitavam a traquinagem.

As borboletas, capturadas, eram trancafiadas numa prisão de mentirinha e então morriam naquele mesmo dia, encurtando ainda mais a sua existência, - já resumida por entusiasmo natural. A temperança não é qualidade de nenhum menino. Mas, isso, também, não quer dizer que são cruéis. Meninos se bastam no existir do próprio fôlego.

As coitadinhas batiam as asas, atônitas, exibidas como troféus pelos insensíveis "algozes", que se embrenhavam bairro adentro. Porém, nunca se ia tão longe; nem, tampouco, podia ser uma viagem mais demorada. Afinal, crianças ainda têm por quem voltar.

E eram de todos os tamanhos, modelos, formatos, cores... - Não eram mais feias nem bonitas. Aquelas borboletas-matizes eram uma representação da vida humana, em toda a sua essência. Nos potes de vidro, aos montes, não perdiam a graça nem a leveza. Procuravam a luz de nossos olhos e ali morriam, inocentes e imaturas, feito nós meninos.