A síndrome do nada

Agora luz, agora trevas.

Em um momento o peito arfa, a fumaça espalha e a luz acende. O corpo se mexe, treme, a empolgação enforca.

Minutos passam e tudo ameniza. O que veio sem razão , também assim diz adeus.

A dúvida senta. Senta exatamente no meio do seu crânio, escorre como água por todo o resto. Inunda. Faz chorar: lágrimas e lágrimas de uma felicidade nula que se esvai, aos poucos.

Vazio.

Aqui, nada mais faz sentido. A culpa toma a vez, a tristeza, o desespero e o vazio. O vazio mil vezes. Expoentes e mais expoentes de um vazio inexplicável e redundante.

O rosto perde a forma e o repousar soa mais distante que o Japão.

"Tenta tomar o controle de volta para si", dizem.

Você tenta. Mais da metade da sua vida é tentar. Nadar e nadar na água craniana que enxarcou teu corpo e embebeu tua alma.

Uma galáxia inteira rotaciona e translada em um orbital de pavores perfeito ao teu redor.

"Tenta deixar isso de lado. Viva!", dizem.

Então você tenta. Tenta, tenta, tenta, tenta. Algumas vezes até consegue, deixa um cantinho brilhando uma orgulhosa umidade, inofensiva para fazer mais estragos.

A farsa de todo dia soa mais valorosa do que o universo caótico que de fato existe, ali, em quase todas as inspirações de O2.

E é assim que deve ser.

É assim toda manhã: um passo em direção ao detector de movimento e a luz acende. Um passo insuficiente e ela permanece apagada. Um minuto inerte e ela some, na sua frente, depois de você ter experimentado a claridade.

Dói.

Mas é assim que deve ser.