UMA RODADA DE POQUER
Outro dia me liga o Renan:
- Fala Zulu… vamos fazer aquela rodada de pôquer hoje `a noite?
- Ihh Renan… que houve? Largou a Presidência do Senado? Estas festejando?
- Nada a ver! O Senado entrou em recesso. Agora tem o PAM e ainda por cima o Brasil ganhou a Copa América. O povão já me esqueceu!
- Legal… vai ser o mesmo esquema de sempre?
- Isso!
- Nos vemos `a noite.
Porra…rodada de pôquer… uísque de primeira e umas bundas caminhando na volta…. todas contratadas pelo ACMinho… neto do “Coroné”. O garoto faz isso só para impressionar os velhos. Mas no final fica tão doidão que capota no meio da sala e nem aproveita as contratadas.
O esquema seria o mesmo… ao invés de apostar grana…seria apostado cabeças de gado. Para quem não tem cabeças de gado… como eu… não tem empecilho nenhum…. O presidente do Incra sempre está por lá para garantir qualquer aposta com as cabeças de gado do Governo.
Chegando lá, vejo os de sempre. Oposição e Situação na mesma mesa. Os velhos falando e os jovens escutando. O ACM contando piadas ao Renam. O ACMinho escutando, já meio grogue, as conversas entre Simon e Cesar Maia. O Zé Dirceu e Jeferson sentados na sala fumando um cubano. O Gabeira fumando unzinho com o filho do Maia. O Lula com duas mulatas… uma em cada perna… tomando o de sempre… vodka, gelo e limão.
Todos apostando milhares de cabeças de gado, como se fossem nada. Morrendo de rir, bibiricando seus drinks e rodeados de mulheres bonitas. Uma perfeita vida em Brasília.
Ao chegar… fico alí tomando meu uisquinho e trocando idéias com o Tuma. Ele sempre contando as mesmas histórias de seu tempo na PF.
O Renam se aproxima… “legal que viestes Zulu. Preciso conversar contigo”.
Vi a cara dele diferente… preocupado… não parecia o Renam de sempre.
- Podes dizer Renam… qual é?
- Estamos entrando numa fria!
- Ah não brinca? Isso não é novidade... todo o Brasil sabe!
- Porra Zulu...Tá falando do esquema das notas e lavagem de dinheiro? Isso já está arrumado... dá uma olhada em volta dessa sala que já vais saber o porque. A parada é outra.
- “Qualé”?
- O vôlei masculino ganhou de novo o Campeonato Mundial! Disse, Renam irritado.
- E aí?
- Como “e aí”? O povo brasileiro não pode ter essa idéia de que trabalhando em grupo e sendo honesto se pode chegar ao sucesso. Esse porra do Bernardinho está com esse papinho de que estrelas não fazem o time, que a estrela é o próprio esporte, e o negócio é o trabalho em equipe, blá, blá, blá. Nós temos que fazer alguma coisa.
- E, mas o Dunga está fazendo a mesma coisa.
- Não esquenta com o Dunga. Daquí a pouco chega o Teixeira e aí resolvo o problema. O que me preocupa é essa conversa de honestidade e respeito que o Bernardinho está tentando desenrolar.
- Sei... mas...
Renam me interrompe...
- Porra Zulu... imagina o que seria de nós? Se o povão começa a acreditar nessa babaquice de honestidade? Podemos dar tchau para essas rodadas de pôquer! Olha só em volta! Estamos todos no mesmo barco!
Olho em volta e noto que nenhum olhou para o nosso lado, todos continuavam a fazer a mesma coisa. Mas senti que todos sabiam o que estávamos conversando.
- “Tabom” Renam... o que tu queres que eu faça? A mesma coisa que fizemos com o Senna?
- Não tá louco! Quase deu merda aquela idéia de colocar aqueles amadores da policia italiana a fazer o serviço. Desta vez teremos que fazer nós mesmos. Com a nossa Organização.
- Tá bom Renam... deixa comigo!
No dia seguinte... vôo para o Rio com o jatinho da Organização.
De lá chamo para o morro do Alemão, para falar com a rapazida.
- Alô... Chamusca? Aquí é o Zulu. Preciso falar contigo. Estou subindo o morro em uma hora.
Chego no morro... e como sempre muito bem recebido pela comunidade... vou direto para o barraco do Chamusca.
- Fala irmão!
- Paz... Zulu!
- Tô aquí porque temos que fazer um serviço rápido e limpo.
- Tá na paz! Quê manda?
- A delegação de vôlei está chegando para o Pam amanhã. Preciso que coloque algum dos nosso em armar uma bomba na suíte 7 da torre 27. Tem que parecer uma explosão acidental... sei lá... tipo... fizeram a vila do Pam muito rápido, economizaram na tubulação do gás e pronto... bum... explodiu. Todo mundo vai acreditar.
- Já é!
No dia seguinte acordo e fico ligado no relógio e no Plantão da Globo. Faço um café forte e espero.
TAN TAN TAN – TAN TAN... entra aquela música do Plantão da Globo. Aquela bicha do Zeca Camargo com seu cabelinho repartido no meio dá a notícia... “Desastre no Rio... delegação de vôlei brasileira ao cruzar a linha vermelha em direção a Vila Olímpica, entra em um fogo cruzado entre traficantes e policiais e uma bala perdida acerta o treinador Bernardinho. Seu estado é crítico. Mas os médicos estão bem otimistas com sua recuperação, pois a bala se alojou em sua garganta sem colocar em risco seus orgãos vitais.”.
“Puta que pariu”... Na mesma hora ligo para o morro.
- Chamusca... cancela a operação. Desativa a bomba!... Pôrra o que que houve?
- Porra Zulu... sabe como é... os “home” tentaram invadir o morro e levaram chumbo!
- Tá bom. Falou...
No dia seguinte abro o jornal... manchete do dia...
“Bernardinho sobrevive a bala perdida, mas fica impossibilitado de falar”... e lá embaixo em uma outra manchete...
“Dunga surpreende e pede demissão... CBF anuncia... Edmundo, O Animal, como o novo treinador da seleção brasileira”.
Zulu