MORTE
Maliciosamente, sussurrando ao vento palavras odiosas que moribundo ouvia, sorrateiramente te aproximastes, exalando extranho e fétido odor, e,
e, sem nenhum sentimento de compaixão, sorristes horrendamente a beira de meu leito.
Olhei-te com olhos ardentes de febre, procurei repelir-te...em vão...te aproximastes mais...
Meus braços inertes desobedeciam aos movimentos por mim desejados,e,pendentes ao lado da velha cama, molhados de suor frio que cobria e
fazia extremecer todo o meu corpo, desistiram da luta, tremendo esforço inútil.
Olhei-te...tremi.
N'um esforço e já exausto quiz falar-te, pedir-te...
Mas a súplica presa à garganta não se fez ouvir, só palavras ininteligíveis, gemidos.
Tentei gritar, mover-me, ah... mas nem chorar consegui, apenas duas lágrimas rolaram pela macilenta face.
Tu sorrias, com deboche, calma e nojenta, esperando o desfecho fatal.
Olhos esbugalhados pelo pavor, mãos inertes, ofegante, o peito palpitando, não queria crer que era chegada a hora, o meu dia...
Esperava-a, não assim, sózinho sem ninguém ao lado.
Não assim sem um último adeus, aos meus, sem um consolo final, uma réstia de luz no quarto ensombrecido.
Aguardavas, impassível, e ironicamente te aproximastes mais.
Súbito gargalhastes horrivelmente, e sem compaixão colocastes o negro manto sobre mim, e, então o golpe fatal.
Silêncio e sombras se anteciparam aos gemidos terríveis e a tremenda escuridão.
Choros desconsolados, angústia reinante e repentinamente a completa solidão e no silêncio mórbido de meu quarto, vislumbrei tua sinistra
figura...sorrindo ironicamente ao ver-me suspirar lentamente,e minh'alma transpor o umbral eterno.