Defeito nato
Defeito nato
“Qual o seu signo?” Mal nos conhecíamos e ela me perguntava logo o signo. Assim! De supetão...
Sempre me orgulhei de assistir a bons filmes e séries e ter bons gostos musicais; de gostar de ler e de ter começado a trabalhar cedo; de tratar bem mãe, irmã, respeitar as mulheres; de gostar de animais, de me relacionar bem com os meus pais e com as estrelas (inclusive o Sol em seus espetáculos atmosféricos: seja o arrebol matinal, o estar a pino sobre o mar ou o lusco-fusco diante do ocaso) e com as pessoas (por gostar mais de ouvir que falar); de estar sempre atento a detalhes (e até confesso que neles me tenho mais alegre ou mais irritado do que as pessoas normais). No mais, evito palavrões gratuitos, mastigo de boca fechada, seguro os gases para a privada e o privado, peço licenças, desculpas, por favor e obrigado, uso e aprecio bons perfumes, procuro me vestir bem e, apesar dos óculos me deixarem com cara de panaca, acredito não ser de se jogar todo fora ¬- razão pela qual a aproximação parecia, até então, agradável.
Tanta coisa para falar e ela perguntou justo o meu signo. Sagitário...
“Que desilusão”– disse ela em postura de sair, ir embora. “Pensei que você fosse de Peixes... ou de Leão”.
Nunca antes em minha vida, assim sem fazer absolutamente nada, eu havia a alguém desiludido. Pelo menos se o fiz não me lembro. E, então, enquanto ela saía, assim eu respondia:
“Desculpa ter nascido... em Dezembro”.