A violência doméstica.

A violência que mora dentro das casas, a que ninguém vê, a que sai as ruas com os agressores e com as vítimas, a que mora ao lado, a que toma ônibus lotado, e está na porta dos bares ,no trabalho e nas escolas.

Nada a justifica, algumas coisas nunca se traduzem, normalmente vem seguida de lágrimas, sejam de arrependimento, seja de tristeza profunda, aquelas que brotam no fundo da alma, a que não dói na carne, mas no coração. O agressor se arrepende, e sempre volta choroso, dizendo que não fará mais, até o próximo trago, onde o ciúme e o domínio se apossam da razão.

Por vezes querem pagar com flores, com afagos, com a cama quente, como se apagassem a mácula do desprezo, e se misturam aos escravos e capatazes, açoitando esposas e filhos, com palavras, com atitudes e chibatas. Donos e senhores das vidas, feito deuses do querer, das vontades, desprezando valores e sentimentos.

Há dias atrás, quando veio à tona o caso da modelo Luisa Brunet, que foi agredida pelo companheiro, um figurão da "alta" , a pauta retornou à mídia, pois desta vez não era a Maria, nem o João, era a Luisa, aquela das capas de revista, a bonita , a rica, li algumas coisas nas redes sociais, e um sujeito disse :" estou mais preocupado com o desemprego, e não com mulheres que se sujeitam a apanhar", juro que tive que me controlar para não mandar o cara à merda, com letras maiúsculas, mas pensei :" Não o conheço, e não posso mudar as pessoas".

A realidade passa longe das portas de algumas pessoas, e não tocam a campainha, então se metem nas próprias idiossincrasias, alheios ao próximo, vendo apenas o que lhes interessa.

Pois bem, a violência contra a mulher acontece até nas mansões, onde mora o desprezo, o abandono, o álcool importado, o reino silencioso da duplicidade, do dinheiro farto que compra "quase tudo", os homens ricos compram companhia e as descartam na mesma noite, num comércio de mulheres descartáveis.

Alguém sabe o que é chegar pela manhã e ver a mãe com um pedaço de carne no olho roxo ? Olhar e ver os tantos hematomas espalhados , vendo as feridas da alma corroer-lhes o semblante , e depois em silêncio ir lavar a roupa no tanque, fazer novamente a comida, varrer a casa, pendurar a roupa no varal, dizer à vizinha desconfiada, que levou um tombo na escada ,que vivia distraída e se machucava com frequência ? Poucos sabem de fato !

Quando o cálice transborda, vira-se para os filhos e diz com a voz estremecida; " Se não tivesse vocês, já teria largado seu pai...o maldito bar ". Existir passa a ser um peso e tanto para uma criança, pois custa a dor de uma mãe.

Quase nunca comparecer as reuniões de pais e mestres, e com desculpas frequentes, mas de certa forma as professoras sabem.

A violência doméstica, sei o que é ,a vi de perto, e posso afirmar que é muito pior do que se imagina, deixa marcas na formação dos filhos, pois crianças não conseguem defender suas mães, e estas pobres aguentam porque não tem para onde ir, e o homem é um provedor da família.

Perdoei meu pai há muitos anos, entendi as suas fraquezas, houve arrependimento, e para mim isso basta.

Revisei este texto, mudando alguns tempos verbais, generalizando a crônica, pois os exemplos estão espalhados em quase todas as ruas da cidade.

Para terminar quero dizer que não é o bar, nem a bebida que faz explodir uma raiva, um tormento, um ciúme doentio, pois essas coisas já moram dentro do agressor, que faz o que já sente, como para aliviar-se .

Não gosto de bares, não os frequento, e tenho motivos de sobra para isso, mas me dou o direito de ter o meu próprio bar dentro de casa, sem problema algum, compartilhando meus momentos de lazer com as pessoas especiais, com alegria.

Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 05/07/2016
Reeditado em 06/07/2016
Código do texto: T5687901
Classificação de conteúdo: seguro