Crônica dos 40
Como conviver com tamanha violência? Não consigo entender, aos quarenta anos vejo um mundo que desconheço. Cresci brincando nas ruas do bairro Santa Luzia, jogando bola, empinando pipas, tocando campainha e correndo, quebrando vidraças, escondendo pelas construções e nunca corremos risco, mesmo chegando tarde. A morte era algo longínquo e vinha acompanhada apenas de alguma doença ou acidente. Pode até soar soberba, mas sempre digo que a infância da minha época foi uma das melhores que tivemos.
Muitas famílias sem estrutura para enfrentarem a violência, drogas e os desvios de caráter que são tristes características de uma infância conturbada e perdida, talvez. Hoje, os pais estão preocupados em ganhar cifras e cifras de dinheiro, fazendo dele um porto seguro, esquecendo os teus em casa na “vigilância” de parentes e ou até mesmo estranhos, não acompanham o crescimento de teus filhos, muito menos os fazem homens de bem.
Como diria Nelson Rodrigues “nenhum homem pode se considerar maduro até chegar aos 40”. Então, olhando as quatro décadas que atravessei muitas burradas e idiotices foram realizadas, mas como não cometê-las? Faz parte do crescimento interior, até os 20 anos você é o cara e sabe tudo, realiza tudo e sempre será o sabichão que resolve todos os problemas, mas na verdade vai deixando os problemas para trás, pois um dia estes mesmos problemas irão atropelá-lo.
Até os 39 anos, você começa a correr contra o tempo, tem a estranha sensação que nunca chegará lá, mesmo cometendo erros. Os sonhos começam a serem palpáveis até que alguém chega e lhe toma pela mão para acompanhá-lo, chegando à hora de dar uma chance à felicidade.
O tempo passa e o que fica são saudades, lembranças e talvez viver de nostalgia, passei a dedicar-me a crônica para não distanciar das lembranças e deixá-las numa gaveta da memória que aos poucos se fecha. Talvez não seja assim para todos, mas para mim este foi o roteiro até aqui.
Aos 20 anos, a vontade é soberana; aos 30, o espírito; aos 40, a razão.
Benjamin Franklin
Goianésia, 05 de julho de 2016