2/3 DA HUMANIDADE NÃO PENSA.
Voltaire tinha razão, 2/3 da humanidade não pensa, resta um terço que pensa.
Pensar é não viver por instinto. Os animais vivem por instinto, não pensam, buscam a sobrevivência, lutam exclusivamente pela sobrevivência, por seu espaço e pela primazia da caça.
Assim em analogia vive essa parte da humanidade, 2/3. Por uma faceta do instinto, por vezes sem perceber seu interior, sua alma.
Buscar o lucro e bens materiais para sobreviver, de alguma forma conseguidos, modicamente, fartamente ou excepcionalmente, faz essa maior parte da humanidade por uma razão concentradora em números que contabilizam o desejo exclusivo de somente acumular. Essa a meta onde nenhum pensamento generoso sobressai. Os meios não são medidos, o valor nominado amor está ausente. Um “vale tudo” que vai além da sobrevivência necessária e mesmo com muitas folgas e passeia serenamente por uma das maiores forças negativas, o egoísmo.
As doutrinas construídas mostram essa realidade, incontestavelmente, principalmente as duas antagonistas maiores. O capitalismo corre atrás do lucro, ter mais, ganhar mais, auferir bens materiais, feroz e vorazmente, pela livre iniciativa. O comunismo faz o mesmo, à margem da razão, sequioso de ufanias rotas e primárias, busca bens em igualdade para saciar uma coletividade que impossivelmente quer igual, com seus participantes em iguais condições, mas sem liberdade de escolha. Mata duas vezes, primeiro por não existir igualdade entre pessoas, com dons diversos originariamente, segundo por torná-las sem escolhas e amordaçadas, cassadas suas liberdades.
No fim das duas linhas e metas a convergência, ambas buscam bens materiais.
O instinto de sobrevivência é o objetivo, sem medidas, de um lado a selvageria do consumo, de outro a restrição do maior bem humano, a liberdade, em nome da igualação em bens, ou seja, pela sobrevivência.
Não é o pensamento equilibrado pela compreensão dos sentidos mais elevados que comanda, mas o instinto.
Ou é elevado cassar a liberdade? Ou é elevado insuflar o consumo selvagem em nome de uma liberdade sem freios? Em suma, duas calamidades que desembocam onde se encontra a humanidade, no caos do que seria o melhor, o equilíbrio que nasce de uma visão humanista não instintiva, mas interiorizada, forjada no sentimento, na alma, no pensamento que o instinto desconhece.
Isso fica claro. E temos essa desordem humana permanente cujos efeitos mundiais são visíveis, com mais ou menos intensidade em regiões diversas.
“O dinheiro nunca falou tão alto quanto agora. O cheiro do dinheiro nos sufoca, e isso não tem nada a ver com o capitalismo ou o marxismo. Quando eu estudava, as pessoas queriam ser membros do Parlamento, funcionários públicos, professores... Hoje mesmo a criança cheira o dinheiro, e o único objetivo já parece querer ser rico. E a isso se soma o enorme desprezo dos políticos em relação aos que não têm dinheiro.” Geoge Steiner.
“Vivemos uma grande época de poesia, especialmente entre os jovens. E escute uma coisa: muito lentamente, os meios eletrônicos estão começando a retroceder. O livro tradicional retorna, as pessoas o preferem ao kindle... Preferem pegar um bom livro de poesia em papel, tocá-lo, cheirá-lo, lê-lo. Mas há algo que me preocupa: os jovens já não têm tempo... De ter tempo. Nunca a aceleração quase mecânica das rotinas vitais tem sido tão forte como hoje. E é preciso ter tempo para buscar tempo. E outra coisa: não há que ter medo do silêncio. O medo das crianças ao silêncio me dá medo. Apenas o silêncio nos ensina a encontrar o essencial em nós.” Gerge Steiner.
Esse silêncio que silencia o instinto e leva ao interior, à alma, ao pensamento.
Steiner disseca democracias ocidentais, como os Estados Unidos : “O capitalismo, enquanto industrialização de massas, a eliminação das formas mais primitivas de comunidade local, a globalização sem freio… Sim, temos uma responsabilidade a assumir. De um lado da barreira está o paraíso, do outro, o deserto, a miséria. Triste. O mundo vive hoje uma desigualdade terrível de possibilidades de vida. No terceiro mundo, as crianças morrem e as pessoas comem lixo. E não há respostas para esse fracasso, que é de todos nós”.
O fracasso é por não pensarem esses 2/3, mapeados pelo instinto, e saciados em suas inferioridades voltadas para o “eu mesmo”.
E disse o grande Professor, aos 88 anos:
“Vivemos uma grande época de poesia, especialmente entre os jovens.....
Fiz poesia, mas logo me dei conta de que o que estava fazendo eram versos, e o verso é o maior inimigo da poesia. E eu disse também —e há quem jamais tenha me perdoado por isso— que o maior dos críticos é minúsculo diante de um criador.”
As pessoas confundem poesia com simetria, estereótipos com sentimento, não têm asas o ponto e a reta, números esmagam o interior poético, não basta a licença poética que encarcera, é preciso alma, não números, simetrias que confiscam as liras do coração. E inventam "versos" com novos nomes, esdrúxulos, medidos em novas formas desconhecidas e sem autoridade consentida, como do costume, por notáveis, gramáticos, e sem nenhuma criatividade. Parece que mesmo a poesia se alça pelo instinto no atual mundo cibernético. " O verso é o inimigo da poesia",afirma o insuperável mestre contemporâneo.
De pobreza basta o pobre que come lixo, como reporta o insigne mestre, um verdadeiro mestre quando o título hoje é declinado a qualquer um que nada viveu, nada sabe do que expende e nem mestrado sabe o que é, a formação de um mestre.