O menino e o cego.
Era apenas um garoto...raquítico, olhar ligeiro, seco de lágrimas, que devido a violência do padrasto alcoólatra decidiu ser guia de cego. Com a benção de sua mãe foi então trabalhar. O trabalho era tranquilo, mas exigia muita atenção, havia de ser precavido e ter olhar mais esperto que os espertalhões que achavam ser possível enganar um cego e um garoto. Mas o garoto era de fato esperto e atento no manuseio do dinheiro. O cego negociava à venda de seus produtos (vassouras, rodos, cabides, etc) e o garoto cuidava da transação monetária. E, assim iam de cidade em cidade, ora de trem de ferro, ora de ônibus, mas sempre iam...esporadicamente o cego ia visitar a família e o garoto o acompanhava, aproveitava para constatar a mesma situação em sua casa e mal chegava, já queria voltar, afinal ser itinerante tinha suas vantagens...viajar, conhecer lugares, pessoas, histórias e culturas. Em uma dessas andanças, sabe-se lá em que lugar, o garoto encontrou ou ganhou , ou comprou uma HQ e ávido pela leitura encantadora de um mundo que em tudo transcendia o seu caminhava mecanicamente ao lado do cego. Entretido que estava na leitura, não viu um buraco no caminho, só se deu conta do mesmo quando ouviu o cego gritar por ajuda para sair do buraco. Ajudou-o, foi muito xingado e até levou uns safanões , mas não se importou e um pouco mais atento ao caminho, continuou lendo sua HQ. E foi assim que eu o vi ainda menino a guiar um cego lá para as bandas das terras dos Rei do Gado (Andradina).