O BRASIL ESTÁ EM ESTADO CREPUSCULAR?
O crepúsculo sempre foi considerado belo fenômeno e momento encantador nas trocas do dia para a noite ou da noite para o dia. O espetáculo é diário e, a cada apresentação, parece renovar-se em beleza. Cientificamente, crepúsculo é uma luminosidade de intensidade crescente ao amanhecer e decrescente ao anoitecer, ambas enviadas da iluminação das camadas superiores da atmosfera pelo sol, mesmo que escondido.
A origem da palavra é latina, crepúsculum, diminutivo de creper, “escuro”.
No sentido figurado, porém, crepúsculo refere-se a decadência, declínio ou quando se diz que alguém está em fase decadente na vida. Usa-se, também, este termo para atitudes que demonstrem falta de caráter e revelam o lado mais obscuro de alguém, isto é, o lado crepuscular da pessoa.
Ontem, após mais uma enxurrada de informações (ou desinformações?) por intermédio de meios de comunicação, olhei pela janela e concluí que os bastidores do país estão mais para o obscurantismo que para a luminosidade. Tive a sensação de que minha nação é crepuscular. Evidente que gostaríamos de vê-la bem clara, mas os fatos levam-nos ao breu.
A situação brasileira parece encaixar-se bem com o momento crepuscular, a julgar pelas luzes que insistem em mostrar-se, mesmo que o sol esteja escondido, mormente, quando se pensa no sentido figurado da palavra.
Há um lado obscuro evidenciando-se demasiadamente corriqueiro no que se refere a mau-caratismo ao findar-se de cada dia, no que chamamos vulgarmente de “boca-da-noite”. Este fato tem sido permanente no país. A cada aurora o brasileiro tem má surpresa, a cada ocaso, o temor das tramas urdidas em tenebrosos “jantares” coloca cada cidadão em estado de reação repentina frente ao inesperado.
Infelizmente, entramos em zona crepuscular, onde a luminosidade acena num horizonte distante e viscoso, em que não há visão nítida. Tudo advém de penumbra dominante, impedindo o despertar.
Em A Obra Crítica de Araripe Júnior consta que “a humanidade civilizada parece ter aderido à estética do Crepúsculo dos povos” [...] O crepúsculo talvez exista, disse eu, para que os morcegos circulem e suguem impunemente o sangue dos heróis, dos profetas e dos justos. [ ...] Enganam-se os que pensam que no mundo a civilização vai anoitecer; muitos, porém, entendem que se não deve deixar amanhecer. É difícil liquidar contas ao clarão do dia. Mais difícil ainda conservar a máscara que a noite permite nos teatros da vida; e, sendo assim, como consentir que se dissolva essa penumbra tão necessária aos truques da eterna mágica?”
Seria o caso de perguntarmos, hoje, se não estamos revivendo o crepúsculo do Brasil, de alguma forma parecido com os fatos de 1893, conforme narrou Araripe Junior. Perguntaríamos, então, à estátua metálica do Patriarca José Bonifácio: o Brasil vive mais um Crepúsculo?
Não nos esqueçamos das palavras tão fortes e duras do Patriarca da Independência:
"Nunca fui nem serei realista puro, mas nem por isso me alistarei jamais debaixo das esfarrapadas bandeiras da suja e caótica Democracia".
O meu questionamento permanece diante de minha janela: O Brasil é um país crepuscular?
Dalva Molina Mansano
Fontes: Google
BibOPub-DocReader
Obra Crítica de Araripe Junior.