Fernandinho Pano de Chão
Fernandinho Pano de Chão
Eu conhecia um garoto. Fernando Costa da Silva ou, Fernandinho pano de chão.
Vivia sujo. Quase nunca tomava banho, as roupas eram as mesmas todos os dias. Meio de transporte: uma bicicleta enferrujada. Fernandinho não ia à escola, não tomava banho, não escovava os dentes, não acordava cedo, vivia na rua. Como é que ia pra escola?
Fernandinho era mais novo do que eu. Todos na rua, pelo seu total estado de abandono, sempre pelos cantos, sempre sujo, sempre despenteado, chamavam de Pano de Chão. Enquanto se é criança, você sabe, vulnerável, chorava de raiva do apelido, queria bater nos outros meninos. Mas era magro, pequeno, não batia em ninguém.
Era pano de chão e acabou.
Mas a roda da vida gira, e Fernandinho virou traficante. Perigoso, arma sempre no bolso. Pelas costas ainda era Pano de Chão, mas pela frente não. Ninguém chama alguem de arma na mão de lixo, de sujo, de porcaria, de pano de chão.
Infelizmente, talvez ele não fosse tão forte quanto imaginava. Logo chegou a notícia: mataram pano de chão. Dois tiros. Um no peito à distancia, um na cabeça à queima roupa. Alguem realmente não queria ele vivo. Morreu o pano de chão. Nem sei como se enterrou, não lembro de ninguém ter dito que foi ao enterro, deve ter ficado como indigente, e indigente é exatamente o que ele era.
Inventei o sobrenome, Fernandinho não tinha sobrenome. Não sei se ele sabia o proprio nome completo. A mãe era drogada, ninguém sabe onde vivia. O pai, a gente sabe: complexo penitenciário. E o menino sujo, emporcalhado, pelos cantos e pela rua.
A vida foi cruel com Fernandinho, mas a vizinhança também foi: não se chama outra pessoa de pano de chão e se espera dessa pessoa que vire coisa boa. Eu me pergunto o quanto esse apelido influenciou Fernandinho a virar o bandido perigoso que foi até os ultimos dias da curta vida.
Fica a pergunta, não tenho como saber.
Essa é a história de Fernandinho Pano de Chão.