Estripulias Inocentes
Será?
Nos meus tempos de criança, lá se vão 50 anos, um refrigerante para criança da classe média era um tanto atrativo. Ouço histórias de adultos hoje contanto pequenos deslizes cometidos na infância.
Contaram-me que em um lugar onde os caminhões passavam devagar por causa dos facões de areia (aquela parte ressaltada entre os caminhos das rodas dos caminhões em estrada de terra), eles corriam e subiam na carroceria do caminhão e derrubavam algumas garrafas de guaraná na areia e depois as escondiam nas saias dos pés de café para tomarem com tranquilidade. Quando descobertos foram exemplarmente castigados pelos seus pais.
Ainda ouvi de um irmão que uma pessoa pediu para meu pai se podia deixar um engradado de guaraná guardado na nossa serraria. Meus irmãos mais velhos não resistiram, sorrateiramente subtraíram uma garrafa e abriram a cuidadosamente, bebendo o seu conteúdo, que foi substituído por água e a tampa recolocada de novo no lugar. Mais tarde o dono do engradado reclamou com meu pai, que apertou os filhos que acabaram confessando o crime. Foram exemplarmente punidos e ainda tiveram que usar o parco dinheiro ganho no serviço de amarração de tacos para pagar o guaraná. Ouvi outras histórias também ainda de guaraná, parece que esta bebida tinha forte atração para as crianças da minha época.
Mas tem outras tentações, frutas nos pomares de vizinhos, doces diversos ao alcance das mãos alheias, galinheiros assaltados na calada da noite. Quem não fez estas estripulias inocentes alguma vez na vida? Coisas da criançada/ moçada do interior.
Será que são mesmo inocentes?
Para aqueles que passaram por isso impunemente, não podia virar usos e costumes? Não nos leva a uma maior tolerância com aquilo que não é certo?
Será que aí não está a gênese da cultura da corrupção?
Em contrapartida, leio a história de um pescador e seu filho que pescam um grande exemplar de um peixe as 23:55 horas, cuja liberação da temporada de pesca se daria a 5 minutos depois. Só o pescador e seu filho, em uma noite escura na beira de um rio. O filho fala para o pai:
- Pai, que peixe lindo, o maior exemplar que já pescamos desta espécie.
- Pois é, mas não podemos ficar com ele, ainda faltam 5 minutos para a liberação desta espécie.
O filho inconformado:
-Só estamos nos aqui, 5 minutos, ninguém vai perceber.
O pai sem vacilar liberta o peixe.
Uma lição para o resto da vida para este menino.
Um exemplo arrasta, vale mais do que toneladas de palavras.