CARTAS DE AMOR

Cartas de amor...

Palavras de amor em cartas

Rasguei-as, não as tenho mais

Por que guardá-las? Melhor ignorá-las

Foram escritas em tempos de amor

Amareladas, agora só significam dor...

Palavras emocionadas, cobertas de paixão

Anseios desesperados, ricos atropelos de ilusão

Foram sonhos sonhados, amados, amarrados

Em festivais de paixão, cheias de intensa emoção

Jazem agora amordaçadas, entregues à solidão...

Sempre estamos escrevendo cartas de amor, muitas ou poucas, mas deixando impressos em papéis, retidos tempos de singulares emoções, grandes e intensas épocas que nos marcaram, em nossa vida pessoal, amorosa, sentimental. Nossas chegadas, nossas despedidas, nossas alegrias, nossas verdades, nossas mentiras, nossas destemperanças, nossas expectativas, nossas esperanças, num desfilar de memórias, de inquietudes...

Quantas vezes, com os sentimentos de desespero, passamos para o papel tudo que está nos machucando, que está nos ferindo, como meio de extravasamento e, de ter também, algo como testemunha daquele momento de dor. Muitas são cartas iradas, amarrotadas, manchadas com gotas de lágrimas que não puderam ser retidas e escoaram, pingando dúvidas, murmurando dores, marcando horrores, delimitando dissabores. E, então, lançamos mãos das palavras, companheiras de todos os instantes, para num alívio de espírito, transbordarmos tudo que está alfinetando nossos corações, fazendo-nos sofrer novamente....

Debulhamos mágoas, registramos momentos, integramos ansiedades, choramos perdas, deliramos alegrias, satisfazemos memórias cantantes, gementes, ardentes, amorosas, delinqüentes... Todas as emoções, passadas para o papel, são símbolos de afetos, saudades, delírios, bem-aventuranças, malentendidos registros.

Anos se passam, realidades modificam-se, quimeras esboroam-se, feito cartas de baralho manuseadas, marcadas. E aquilo foi transformado em amareladas réstias de palavras, anseios, desilusões. E, como num ímpeto de saudades as relemos, as curtimos recordando a nossa vida passada. Lacônicas impressões toldam nossas mentes e ávidas as desamarramos da nossa coleção e, mais uma vez, revivemos aquelas realidades havidas e sentidas.

A maioria dessas cartas são as conhecidas cartas de amor, repletas de sensações de emoções de carinho, de amor. As palavras se repetem, pois em âmbito de emoções não temos vocabulários variados, sendo repetitivas as palavras e expressões que as identificam. Com surpresa revivemos carinhos já até esquecidos ou vergonhosamente lembrados, de pessoas que passaram, ficaram e depois se foram para nosso alívio, saudade ou tranqüilidade.

Cartas de amor, retalhos de dor sentida de alguém, que num vaivem de acontecimentos, mostram saudades de quem era amado, indiferença de quem desrespeitando emoções, fizeram-nos jogados ao chão, desintegrados...

Rasguem as memórias existidas, os conceitos desmerecidos, as mentiras de quem nada tinha a oferecer. Ao reler, choramos novamente, sofremos de repente, repetindo nosso passado, nossa saudade.

Cartas de amor são andorinhas que levam e trazem as notícias, mas quando não regressam, deixam tristezas.

Vamos nos vestir de saudades, com pétalas floridas e perfumadas ao desatarmos os nós das que foram emoções vividas, paixões sentidas, amores reconhecidos. Vamos saudar com elegância nossas saudades, realidades, em prantos as nossas decepções...

Maria Myriam Freire Peres

Myriam Peres
Enviado por Myriam Peres em 17/07/2007
Código do texto: T568445